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Quem sai aos seus

Um blogue para a Madalena, para a Teresa e para a Francisca.

Voltemos a Paris (e ao Mali)

Um terrorista invoca qualquer coisa para matar. Milhões de pessoas do mundo têm opinião sobre o mundo, e como ele deveria ser diferente. Todas, arrisco. No entanto, a maior parte de nós faz a sua vida sem matar ou ferir ninguém. O que existem é pessoas sem apego a nada. Falam de Alá como falam de Cristo, da independência do País Basco ou da Irlanda do Norte. Um terrorista é um terrorista, espalha o terror. Deem-lhe os ingredientes certos e ele vai dizer que não ter tido ginástica em pequeno fez dele um assassino. Não é justo, pois, que se escrevam títulos como "Muçulmano critica ataques". Nada há de estranho nesse facto. Notícia seria que um muçulmano viesse concordar com estes atos. Como não é justo chamar à colação cristãos quando um católico faz asneira ou meter no mesmo saco todos os agnósticos quando um ateu comete um crime. Maçãs podres há em todas as religiões, clubes, partidos, tribos e agremiações. Todas as pessoas cometem erros. E entre essas, pessoas que cometem pequenos erros (todos) e outras que cometem grandes erros (pouquíssimas, felizmente). É a vida.

Mas também não é justo dizermos que isto não tem nada a ver com religião, porque tem. Se o factor religião fosse neutro não gritavam por Alá nem iam para a Síria. Que respostas lhes estão a dar lá que não lhes deram na Europa, onde a maioria destas pessoas cresceu? Gostava de saber. E terá isto a ver com a religião-religião, a que se vive e pratica, ou com a ideia de pertencer a um grupo? Ou, então, pode dar-se o caso de serem apenas más pessoas com acesso a armas e comunicações rápidas. Talvez o caso seja tão simples quanto isto. E talvez não queiram "acabar com o modo de vida ocidental", mas apenas fazer estragos onde sabem que estão mais pessoas. Um estádio, um concerto, um restaurante... 

Quando fiz Erasmus em Lyon, em 1997/1998 a tensão com árabes era enorme. O magrebinos eram odiados em silêncio, não tanto por serem magrebinos (quero acreditar) mas porque não faziam nada para cairem nas graças de ninguém. Adolescentes com idade para serem repreendidos divertiam-se em pequenas provocações. Coisas pequenas mas muito desagradáveis. Só eu, num período de nove meses, vi um grupo mandar uma pedra a um autocarro cheio de gente e partir um vidro, tal como vi um miúdo com uns 15 anos puxar o alarme do metro em andamento num pequeno trajeto fazendo parar um linha inteira. Em ambos os casos, fui espectadora silenciosa e não disse nada. Nem eu nem ninguém. Creio que no caso do autocarro, se gritou um pouco, porque o susto foi enorme. Mas o motorista continuou, tal como continuou a minha vida sem sobressaltos de maior. A sério, para lá do susto (caso 1) e da estufação (caso 2) não senti mais nada. Até há uma semana. Uma pessoa põe-se a tentar juntar dois mais dois e pergunta-se: estes terroristas são as pessoas que aos 12, 13 anos estavam no centro de uma cidade francesa a cometer pequenos crimes, sem noção do bem e do mal? Foi a exclusão social que os trouxe aqui? Mas se foi, onde estão os portugueses terroristas? Ou os chineses? Como é que andam a atrair estas pessoas? Como é que elas chegam a estas mesquitas de vão de escada onde se congeminam estes planos?

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