Vamos dizer as maluqueiras que nos vêm à cabeça
Vou aproveitar que estou com tempo e despejar para o Sapo teorias loucas sobre os hábitos de leitura de jornais. Os meus, não há razão para medos. De manhã leio o 360º, dou uma vista de olhos pelos jornais online. Ao almoço recebo o Económico à Uma, espreito o site do DN, recebo a Hora de Fecho do Observador e o Macroscópio. Quando tenho mais tempo, leio as escolhas que a The Atlantic me manda. E mais uma ou outra coisa que me suscite o interesse quando passeio pelo Facebook. Opinião, sobretudo. Que é logo o que é vedado quando as edições digitais são pagas. Uma treta... A pessoa não paga logo, começa a adiar, depois mete-se o almoço, a seguir um telefonema, mais qualquer coisa parva e quando se vai a ver... passou.
E o ponto é este: se não vou até ao fim por uma coisa que sei que vale a pena, faço porquê? Resposta sincera: POR NADA.
Não porque não haja matéria de grande interesse mas porque nada é insubstituível. Não posso ler uma crónica de alguém porque está "vedada", vou ao "The Guardian" encher-me de textos bem escritos, ideias diferentes ou outra coisa qualquer que até pode não ter nada a ver.
Daqui a 20 anos quando me estiverem a ler e disserem "caramba, a mãe era mesmo esperta" (porque é isso que vão dizer, meninas), devem ter em consideração que estou muito sozinha na minha convicção de que ninguém vai pagar mais por informação do que o que paga hoje. E já paga bastante. Em dados, Internet, banda larga, equipamentos e tudo o que faz da Apple, Samsung, AT&T e Verizon Communications empresas que estão nos 30 primeiros lugares da lista das 2000 mais valiosas do planeta, segundo a Forbes. A ombrear com bancos e petrolíferas, não é com a Nestlé, que põe uma coisa essencial na casa de todos nós: comida. Até quando estão no tapete as empresas de telecomunicações são intessantes. Essa é que é essa.
Temos a ilusão que não havendo papel não há suporte e não é verdade. Existe: chama-se tablet, smartphone, computador.
Não se pode esperar que as corporações que negoceiam à conta daquele espontâneo like numa foto no Facebook ou da leitura de uma pequena notícia no site de um jornal, de tudo o que lemos e partilhamos com os amigos venham dizer "meus amigos, vocês, produtores de conteúdos, são essenciais, temos de distribuir lucros convosco". Não. Nunca vamos ouvir o CEO de uma Vodafone ou de um MEO desta vida admitir que só há Vodafone e MEO porque há chamadas (cada vez menos), mensagens (muitas), interações em redes sociais e passeios por sites de jornais ou particulares, blogues e contas de Flickr.
A pequena migalhinha com que cada um de nós contribui para manter alimentar estas empresas devia fazê-los valorizaram mais a horas que passamos ligados. Mas não. Cópia privada? Nem pensar em pagarmos. Contribuir para que exista uma indústria cinematográfical local? Primeiro vamos a tribunal tentar resolver isto. Ser parceiro privilegiado de um grupo de media? Nem tocar no assunto...
Bem sei que isto é uma solução que deixa as corporações em estado de nervos. Ouvem falar em partilha de lucros e mostram logo o cartão da APAV. Coitadinhos, atacados por estes calões dos contéudos sempre a pedirem que os sustentem. É a maravilha do século XXI. Quando me estão a roubar os textos para serem "procurados" no Google ou "partilhados" no Facebook, ajudando ao tráfico de dados das suas empresas, através de aparelhos que constantemente me dizem que tenho de trocar por novos mesmo quando estão em perfeito estado, nunca se lembram que sou eu que lhes estou a pagar a mansão em Austin (a maior do mundo), as pesquisas da malária em África ou até 900 milhões de euros dados ao BES pelos bonitos olhos de Ricardo Salgado.
A sério que é giro. A PT (e a Cabovisão e a Nos) pôs o Estado em tribunal recusando-se a pagar uns três ou quatro milhões de euros para um bolo a repartir pelo cinema e audiovisual nacional e depois passou um cheque de 900 milhões ao BES? Uma pessoa não quer entrar no caldeirão da demagogia mas assim fica difícil, minha gente...