Trail Monte da Lua: feito. Lindo!
É bonito o estado em que fiquei. Preta do pó, toda arranhada nas pernas (quem me manda não levar meias pelo joelho), com um escaldão (anos de cuidados desperdiçados em sete horas e 19 minutos porque me esqueci de pôr protetor), bolhas de fricção, inchada como quando estava grávida, e toda partida de modo geral. Apanhámos tudo e mais alguma coisa: alcatrão (pouco), terra batida, vegetação luxuriante a dar-nos na cara, cardos e silvas, subidas de terra e descidas de pedras, subidas de pedras e descidas de terra, subidas de areia (as piores, benza-as Deus), mil degraus na Praia Grande, a própria da praia... grande. Em suma: um inferno! Corri muito pouco porque havia muito pouco sítio para correr e nunca nas subidas, uma maneira de me aguentar o máximo tempo possível. E, no final, por pura exaustão.
Pensei muitas coisas naquelas sete horas. Nem todas muito divertidas. Deixei o António, cheio de febre, com as miúdas, às 07.00. Queria mesmo MUITO terminar e voltar para casa. Tinha medo de cair e não me conseguir levantar. Ou de morrer. E se morresse tinha deixado as minhas filhas orfãs por causa de um trail em Sintra. Que estúpido teria sido! Cheguei a imaginar a capa do Correio da Manhã. Tive medo quando comecei a ver que estávamos todos tão cansados e que se alguém se sentisse mal seria muito difícil ajudar. Em alguns locais, se havia alguma escapatória, estava bem escondida. Em boa parte do caminho, a única solução era continuar, sempre. Pensei no filme "Alive" quando me vi ali toda suja diante de perfeitos estranhos, morta de sede e de fome. Quer dizer, não queria comer ninguém, mas não custa imaginar o que o ser humano pode chegar a fazer em caso de necessidade.
Enquanto lá estava sentenciei, séria, várias vezes, que nunca mais me apanhavam neste trail, mas assim que pus os pezinhos-castigados-como-se-tivesse-caminhado-em-cima-da-cama-de-um-faquir em casa, 10 horas e 30 minutos depois de ter saído, apenas coisas espectaculares me vinham (vêm) à cabeça: ter concluído aqueles 25 km (e mais uns bons pós "derivado" de um engano incial), como Sintra é linda, aquele verde, aquela vista, as florzinhas amarelas, o cheiro a mar a sério, o cheiro dos eucaliptos, uma minúscula borboleta néon que me apareceu à frente (estava mística já), a Cláudia a ajudar quem podia, o bem que souberam aqueles gomos de laranja aos 12 km, como nos rimos os cinco (estão no meu coração) e como foi possível fazer isto.
Sou pessoa para repetir.
PS: E ter havido um sismo nesta zona?