Rumo aos 42. Dia 3. Feira do Livro
A Feira do Livro cansa-me. Não gosto particularmente do sítio, tão empinado. São muito stands, não conseguimos ver tudo. Está feito uma feira popular, só faltam os carrosséis. Mas nem me passa pela cabeça falhar ou não levar as miúdas. Elas querem coisas bem diferentes do que se possa pensar. Saltam em cima do livro gigante do Wally, ficar numa cadeira a pintar, gelados. Faz parte, devia saber. Faz parte do que é novidade para quem tem livros em várias prateleiras e visita livrarias todos os meses.
Isto tem a sua graça. Em pequena, ir à Feira do Livro era dos melhores programas do ano. Além de comprar livros que realmente queria, eram muitos -- três ou quatro de "Uma Aventura" ou da Alice Vieira. Uma excentricidade. Nunca me pude queixar. Eu podia tê-los (talvez não TODOS! os que me apetecia, mas os mais do que suficientes), só não havia muitas livrarias. Havia a 77 em Mafra, cheia de Patrícias, mas só lá ia quando passava dias em casa da minha tia. Havia uma pequenina em Sintra, foi lá que descobri "Uma Aventura no Supermercado", e a Ovni na Ericeira. É uma loja que ainda lá está, no Jogo da Bola. Nem sonham, e é pena, mas estão associados a uma das minhas melhores memórias de infãncia. A minha mãe comprar-me uma Anita e depois virmos de autocarro para casa, ela a contar-me a história. (E, a sério, que acho isto genial, porque deve ter sido a única vez que andámos de autocarro. Se há coisa que ela sempre fez foi conduzir, e conduzir bem).
Chegamos a hoje, e a essas contradições da vida do primeiro mundo. Eu queria ter livros por todas as partes, agradeço-os e valorizo-os, ponho-os à disposição das miúdas. Mas por serem hoje corriqueiros, as crianças não lhes prestam a mínima atenção. Dão-nos por adquiridos. Terei de me esforçar muito mais do que antecipava para que eles sejam boas leitoras.
|crédito: Dorothy Rees|