Já tinha pensado nisto: quando nasceu o coração? O dia trouxe-me a oportunidade e, nem que fosse só por isso, já tinha valido a pena. A história é esta: parece que a forma é quase tão antiga como nós no mundo, mas só no século XIII (por volta de 1250) foi usado para simbolizar o amor. Julga-se que aparece pela primeira vez numa iluminura da letra S no livro francês Roman de La Poire, de um tal Thibaut, com ilustração de um tal de maître de Bari, que, sem saber, ainda muda a vida de todos nós. Feliz Dia de São Valentim. Muito amor. Sempre. De todos os tipos.
PS: Faz 15 anos que o dia dos namorados é espetacular.
Há uma coisa que já não se aguenta ler sempre que um político torna público que é gay: "Que coragem".
Como um dia escreveu António Guerreiro no Público, coragem têm um trolha ou um camponês quando, num circuito fechado, e muito mais preconceituoso, se assumem gays.
Um político é outra coisa: é quase uma prova de ética. De que quer viver uma vida transparente. E isso, não sendo valentia (porque apesar de tudo já não estamos aí) é mais do que suficiente para admirarmos pessoas como Adolfo Mesquita Nunes (CDS) ou Graça Fonseca (PS).
Mas, convenhamos, políticos e artistas tornarem público que são gays não é ainda uma afirmação. É um ato. O ato de afirmar e o ato de serem elas a dizê-lo. Ainda vale pelo que as pessoas são. Pessoas como Adolfo Mesquita Nunes ou Graça Fonseca, que parecem sensatos, que têm uma profissão que se recomenda, opinião, bom aspeto e um ar cosmopolita são excelentes exemplo e fico feliz por termos estas pessoas à nossa disposição, especialmente porque ainda temos de conviver com imenso preconceito. Mas, lá está, afirmar-se gay ainda é uma coisa que não vale por si. Ela vale pelo que estas pessoas são na vida pública. E pelo seu bom comportamento como cidadãos. Por exemplo, um político acusado de corrupção tornar público a sua homossexualidade teria outra leitura.
Portanto, e apesar de atabalhoado, o meu ponto é este: precisamos de novos desafios no que a este assunto diz respeito:
1) Entrevistados que dizem naturalmente 'o meu namorado/marido", sem precisar de fazer disso trending topic no Twitter.
2) Entrevistas em que o melhor título não é "Sou gay".
3) Assumirmos que há pessoas gay de todas as cores e feitios e que nem todas vão ser ícones da moda, apresentadores super bem sucedidos ou políticos que fazem coisas notáveis. Alguns gays são como a maioria das pessoas. Cidadãos que vão passar à história sem história nenhuma para contar. Alguns são até vilões. Nenhuma dessas coisas interfere com o facto de serem gays ou com o respeito e igualdade com que devem ser tratados. Ser gay não dá bondade, não dá um ouvido especial para a Eurovisão ou mais estética. Ser gay é apenas ser gay.
Creio, aliás, se li bem a entrevista de Adolfo Mesquita Nunes ao Expresso que ele concordaria comigo. Como ele diz, faz o que faz, porque não tem a opção de ser outra pessoa.
Apanhou-me desprevenida. Eu ia a caminho das Torres de Lisboa, sem bateria, sem podcasts, e deixei-me enredar na voz de velho que dizia coisas de gente nova. Falava de música, de palavras e o entrevistador - António Macedo - sabia tudo sobre ele. Havia outra coisa: ele falava bem, um leque enorme de palavras, nada obscuras, apenas pouco usadas. Nunca me canso de pessoas assim. Falava do encontro musical com Nuno Rafael, a Márcia. Era um homem velho, sim, mas dizia coisas novas. E tinha de ser alguém que todos conhecemos.
Mas só no fim daquilo tudo -- 10 minutos de caminho -- é que percebi. Era o Sérgio Godinho.
Sérgio Godinho tem um disco novo e eu comecei a gostar dele mesmo antes de ouvir as canções. Eu não ia procurar nada sobre ele se não tivesse vindo ter comigo. E ainda bem que veio. Agora sou eu que não me canso de o procurar.
"As obras em Lisboa são sim, uma grande chatice. (...) Porque não fazem algo mais pertinente como arranjar passeios, alcatroar todas as ruas, limpar e melhorar a sinalização, alindar jardins, arrumar e limpar caixotes do lixo, contratar varredores, pintar o tracejado nas ruas... Tanta e tanta coisa mais pertinente que isto que o Medina decidiu fazer. Era o que bastava para ficarmos com uma Lisboa mais limpa e mais arrumada", escreveram-me nos comentários ao post em que falo das obras em Lisboa.
Agradeço que tenha dispensado alguns minutos a comentar e ainda que me custe responder a uma pessoa que assina CrocDundee, gostava de dizer-lhe que também sofro com as obras e a desorganização que vai pela cidade, que já evito ir à Expo e outras coisas que tais, mas isso é o de menos. Isso é circunstancial. Dentro de um ano, é passado. Além disso, o seu comentário defende melhorar a cidade que existia, eu defendo que se faça uma nova cidade a partir do que já existe. Até pode parecer o mesmo, mas não é.
A mais importantes das razões para defender Medina neste projeto é esta: devolver a cidade às pessoas. É verdade que nos últimos 50 anos passámos a acreditar que a cada pessoa corresponde um carro e que isso é tão natural como a sua sede, mas na minha visão da cidade não é, e, pelos vistos, nesse departamento, o presidente da câmara e eu estamos em sintonia. Menos carros, mais proximidade, mais vida de bairro, mais comunidade.
[Hoje o título é gamado ao mail que o David Dinis envia todos os dias de manhã, 360º]
... Punha notícias no site do costume. Cheguei a casa a desoras e na segunda-feira, às 09.00, já estava com as mais novas na escola. Andei por aí a fazer recados em vez de dormir (note to self: não voltar a marcar "coisas" para as folgas) e a dar tempo às crianças. Eram 18.45 quando parei o carro no ténis. Faltavam 15 minutos para terminar a aula da Madalena. Pus o banco do carro para trás e pensei "vou dormir só um bocadinho". Acordei sobressalta às 19.15. A minha filha, a minha filha. A aula já tinha terminado... Estava muito necessitadinha de uma soneca... Faltava pouco, muito pouco para poder dormir uma noite inteira de sono, pensei eu.
À 01.00 da matina ouvimos o som de um cão a ladrão vindo do quarto da Teresa e da Quica. A Té estava com laringite (já conheço a léguas, consigo fazer o diagnóstico na boa). Não conseguia respirar, piava. Abrimos o frigorífico e a porta da cozinha. Ela apanhou o fresco da noite ao colo do pai enquanto a mãe falava com a Saúde 24. Aconselharam-nos uma ida ao hospital da Estefânea. "Se quiser informamos que está a caminho". E, pronto, lá fomos. Ela, entusiasmada com a ideia de ir ao médico, e eu, mais ou menos tranquila porque se tinham avisado havia de ser rápido.
Ainda não eram 02.00 e já tínhamos feito a triagem. A pulseira verde dizia que não éramos urgência mas não havia problema. Deviam estar uns três meninos para serem atendidos. Fomos para a sala de espera e ficámos perto da porta para a Teresa ir apanhando ar. Desistimos nem cinco minutos depois. Três pessoas de bata branca foram para a entrada fumar e dizer mal do trabalho embalados pelo som de uma Ford Transit que ficou a obstruir o caminho ligada, deixando um cheiro pestilento no ar. A Teresa foi para a outra sala e esta-aqui começou a reparar nos pormenores. Nenhuma das duas salas de espera estava particularmente limpa. Ninguém era chamado para os gabinetes. Os pais, todos a caírem de sono, começaram a impacientar-se. Primeiro implicámos com as crianças, depois uns com os outros, finalmente fomos ao guichet. Faltavam três pessoas. Um urgente e dois meninos com pulseira verde. Continuavam sem chamar ninguém, exceto para a triagem.
[Um casal começou a discutir enquanto lá estávamos. Ela dizia que tinha ido para o hospital porque a mãe dele tinha insistido que deviam ir e que ela achava que não valia a pena e que queria que a filha dormisse. Era o caso urgente. Discutiram. Ela virou-lhe as costas e foi ao carro. Voltou. Tornou a ir. Regressou. Repetiram os mesmos argumentos. Ele irritou-se, ela também. A criança estava efetivamente com sono e incomodada. Andou de colo em colo. Nunca se largaram, apesar de estarem chateados. A bebé quis comer, a mãe deu-lhe maminha. Devia ter pouco mais de um ano. Foram os primeiros a serem chamados. Eram 02.40, talvez um pouco mais. Primeiro foi o pai, depois entrou a mãe. Pareceu-me que ela o queria castigar por estarem ali naquela altura].
Uma mãe foi perguntar a que horas ia ser atendida. Estava à espera há mais tempo do que eu. Disseram que nos iam chamar. Pedi o livro de reclamações e escrevi ponto por ponto o que estava errado.
Às 03.00 começaram a chamar. Às 03.20 tinham atendido todas as crianças, incluindo a Teresa que, segundo a médica, "ficou bem entretanto". Fez um corticóide, disse-me que não ia dar adrenalina para não estarmos ali mais tempo e mandou para casa com a indicação de voltarmos se piorasse (uau! quatro anos de medicina para me dizer que se os sintomas me parecerem incontroláveis devo procurar profissionais). Completei a reclamação observando que tínhamos esperado tanto para depois todos serem atendidos de sopetão.
Compreendo que seja muito duro ser profissional de saúde hoje em dia mas o que se passou não tem a ver com dinheiro ou a crise ou as más condições de médicos e enfermeiros. É desleixo e pouco empenho. Podiam ter atendido todas as crianças uma hora antes, mas não. Deixaram-nos a secar sem nos oferecerem explicação. Tinha o hospital em melhor conta. Mas se calhar sou muito exigente e os médicos do Serviço Nacional de Saúde querem fazer o favor ao PSD e dizer que a saúde pública é só para quem não pode mesmo ter seguro...
Estamos naquela fase do ano em que pensamos na chuva, vento e frio e quase nos parece agradável. Olá, outono!
Encontrado no Pinterest
Nem me tinha apercebido mas as próximas semanas vão ser em grande: aniversários das gémeas, da Francisca grande, da nossa Chiquinha, os Buraka a porem música no Lux, os anos dela (estou a fazer-me à noitada) e no fim do mês a celebração de uma pessoa muito fixe. Mal posso esperar e até já ando a pensar no que hei-de vestir.
O senhor dos gelados do Marquês vai arrumar o carrinho e trazer as brasas das castanhas (yes!), há abóboras, nozes e marmelos (nhami) e muita comida que leva erva doce (duas vezes nhami). E cogumelos, sim, também.
Podemos começar a pensar no dia das bruxas e, claro, como não, no Pão por Deus, o meu feriado preferido! Este ano já com a Quica pela mão. Estão a vir-me as lágrimas aos olhos e tenho de começar a pensar nas roupas 2014-2015. Até ao Natal vai ser um instante.
Só para se ver como isto dos TPC é subjetivo (e como estou obcecada com o assunto), perguntei à Madalena se vai trazer trabalhos amanhã e ela diz-me com o maior orgulho: "os trabalhos de casa são o nosso prémio se soubermos ler". E diz-me isto assim, com a maior naturalidade, como se esse momento fosse mais interessante do que um bilhete para o concerto da Violetta. Está certo!
Várias pessoas deixaram comentários sobre o assunto. Obrigada pelas opiniões. Concordando mais com uns do que com outros, acho que todos falamos do que conhecemos, a partir da nossa experiência e jeito, ou não, para estas coisas.
A Ana Maria dizia que para ela era um problema o onde e quando fazê-los (não ela, a filha). Se for uma carga muito forte a criança não consegue fazer mais nada. E concordo com ela. Da mesma forma que concordo que os TPC devem ser todos corrigidos na aula. Se não são, qual é o objetivo?
Outra pessoa, SerraBrava, falava nessa coisa do pedir ajuda. Quando falar em ajudar é sentar-me ao lado e estar ali a explicar todos os passos a par e passo. Sinceramente, qual é a utilidade disso? Há coisas na vida que são muito difíceis, algumas inevitáveis (vide, a carga de impostos), mas se pudermos poupar na fatura do sofrimento, agradece-se.
Deixo para último lugar uma frase da pessoa que assina Espalha Brasas: "Não vamos exigir nada aos meninos...nem uma cópia...nem uma leitura...nada...(ler com ironia sff). Pesquisar! Significa dar um tablet ou um PC?". Sou bem a favor dos miúdos trazerem pesquisas para fazer em casa, e acho realmente que o mau princípio é achar-se que as pesquisas são ir ao google e escreve uma palavra-chave naquele retângulo. Não são. É cruzar fontes de informação, analisar a sua credibilidade, tirar conclusões e procurar outras fontes, como livros ou a memória dos pais e outras pessoas.
Mas, pronto, nunca nos vamos pôr de acordo nestes assuntos e, com apenas quatro dias de 1.º ano, a conclusão a que chego é que a melhor política é respeitar as opções da professora e os seus métodos. Ela sabe o que está a fazer.
Nem de propósito, esta foto vinha acompanhada desta legenda:
"Children should transcribe favourite passages. ––A certain sense of possession and delight may be added to this exercise if children are allowed to choose for transcription their favorite verse in one poem or another... But a book of their own, made up of their own chosen verses, should give them pleasure."
Fomos avisados na reunião da escola com a professora: a Madalena vai trazer trabalhos de casa às segundas, quartas e sextas. Chocante para dizer o mínimo e nem sou contra os trabalhos de casa nem me vão ver a assinar manifestos contra os TPC. Pelo menos para já. Falamos no Natal quando a carga aumentar para as quatro vezes por semana. Ou na Páscoa quando forem cinco vezes por semana. Vai acontecer. Ela disse-nos. Talvez venha mesmo a ser a mais radical das opositoras aos trabalhos de casa. Para já, como em tudo, só pedia um bocadinho de moderação, porque o assunto, como diz o João, é pertinente.
Qual BES, gostava de fazer a distinção entre os bons trabalhos de casa e os maus deveres.
Na minha visão, romântica possivelmente, o TPC útil é aquele que 1) põe o aluno a praticar o que aprende para usar e para ver se percebeu e em quanto tempo; 2) que obriga o aluno a responsabilizar-se por uma tarefa, por mais simples que seja, 3) que é feito sozinho e 4) que está adaptado ao ritmo da escola.
Não me parece sensato que se mandem trabalhos para casa se a escola fecha às 19.00 e se muitos meninos ficam por lá até essa hora. Mas numa escola que termina as aulas às 16.30 e em que a maioria sai a essa hora, já me parece razoável que os professores peçam alguma coisa. Mas pedir o quê? Uma cópia à sexta-feira parece-me justo. Embora me estrague o fim de semana, nesta fase têm de praticar. É chato mas mais chato é desaprenderem em dois dias o que lhe levou uma semana a saber. Mas fichas exigentes durante a semana? Não vejo a utilidade. Já tarefas de responsabilidade como encontrarem palavras que estejam a trabalhar, obrigá-los a pesquisar o que estudam já me interessaria mais. Tal como serem ensinados a ler este ou aquele texto. Mas, ok, posso mesmo ter uma visão cor de rosa do assunto. E é um assunto que me preocupa.
Faço as contas e acho que ela tem apenas 45 minutos, uma hora no máximo, por dia, para os fazer. É muito? É pouco? Gostava que os pais recebessem orientações dos profes com o tempo que os alunos, por norma, devem dedicar a um exercício. Se tem 20 minutos para fazer um problema, mas só o consegue resolver em 60, tem de praticar mais. Já agora, gostava que essa fosse a única ajuda a dar às crianças.
A diretora pedagógica da escola pediu aos pais para se possível não ajudarem as crianças a fazerem os trabalhos de casa. Ela tem razão. "Temos de ver se eles perceberam". Parece-me que tem toda a lógica e acho mesmo que devia ser sempre assim. Mas será? Ou na hora h vou ajudar a Madalena e nem pio?
PS: Maldita insónia e malditas "Criminal Minds" que me ponho a ver de madrugada e me deixam em sobressalto. Podia mudar de canal? Podia, mas quem é que se consegue separar de um bom doido varrido.
Madalena: "Passei o dia sentada mas valeu a pena. Aprendi imensas coisas".
Teresa: "Brinquei com a N. e a D.".
Francisca: Chorou a manhã inteira. O relato é de terceiros. Daqueles terceiros (avó) que não douram a pílula.
Agora é que a porca começa a torcer o rabo e, se calhar, não sou tão fortalhuda como achava. Vai-se a ver e vou andar com o coração nas mãos no próximo mês.
É emocionante, emocionante a sério, vê-las, rua fora, a caminho da escola. Não me quero esquecer desse momento nunca mais, mas a angústia do primeiro dia das crianças, receio de as deixar, nervos, sobressalto... Nada. Não tenho nada disso. A vida é assim mesmo: aos seis anos entramos na primária, aos quatro aproveitamos o melhor que uma escola que já conhecemos nos pode oferecer, aos dois vamos aprender a estar com os outros. Só isso. Guardo a picuínhice para outras coisas. Género, passar da meia noite e andar a repassar listas de material e pedidos para ter certeza que está tudo nos sacos, mochilas e lancheiras. Estamos prontos...