Respondendo ao apelo da Madalena, ela passa a ser a que "já sabe ler", e aproveitámos para abrir as janelas e deixar entrar o ar fresco. Este fim de semana trabalha-se. Este fim de semana levamo-las a festas de anos. Este fim de semana vou correr. Este fim de semana continuo "O Meu Avô Luís" (não me enganei: está recheadinho de informação interessante) e ponho outras leituras em dia.
Diz que as caras médias são as melhores (tenho pensado muito nisso. Será que detesto António Costa, o-do-PS, porque se me afigura como muito desleixado?)
O que não fazer após uma tareia no ginásio. Ou depois de correr. Ou depois do desporto em geral.
Sobre rotinas, para (re)ler quando me for deitar na sexta-feira à noite. Parece que agora, com a mudança de hora e tudo, é que é. Acabou-se o bom tempo, cigarras! O ramerrame dos dias manda (pelo menos neste agregado familiar). E já há quem já esteja a contar os dias para agosto (uma amiga minha. Não sou eu. Obviously).
Balneário da natação, Madalena, Teresa e eu metemos conversa com uma menina de 10 anos e chegamos, já não sei como, ao "que queres ser quando fores grande".
Menina - Eu vou ser dos bancos. Vou ser bancária.
Madalena - Bancária? Que chatice! Eu quero ser pintora.
Tendo em conta que a Madalena passa os dias a desenhar, que não é a primeira vez que me vem com esta conversa de ser pintora e que amiúde me diz que nunca vai querer morar longe dos pais, decidi enfrentar a realidade: vamos ter de a sustentar até aos 40 anos.
[Pai lamenta que a primogénita não tenha dito "Bancária? Que chatice! Eu quero ser banqueira". Uma profissão com tanta saída e prestígio nos dias que correm, digo eu.]
Fomos no sábado ao Oceanário com o pai. A mãe foi ao jornal para trabalhar. Vimos imensos tubarães e muitos peixinhos coloridos e dois sapos, um peixe-balão, pinguins. Não vimos tartarugas, porque estavam a dormir nas suas casinhas.
O segundo sapo tinha manchinhas pretas e o corpo amarelo.
Eu, o pai, a Teté e a Quica, quando fomos ao Oceanário, vimos que os tubarões tinham dentes afiados. E os dentes bicudos. Não é como os das pessoas que são assim lisinhos. É mesmo afiadinhos como um lápis.
Também vimos a casa do Vasco, o mergulhador do Oceanário.
Foi uma visita longa, e vimos o Vasco a nadar. Nós não vimos a cara do Vasco porque ela estava de costas.
Quis tirar uma foto com o Vasco mas o pai não deixou porque estávamos muito atrasados para ir para casa.
Assinado por Madalena*
Lá havia tubarões e pinguins.
Assinado por Teresa (um contributo precioso mas a que não vou chamar ainda "o primeiro post da Teresa")
*Desta vez tentei compor mais o texto, houve um longo debate sobre o sentido da segunda frase. Expliquei algumas coisas sobre a repetição de ideias e do uso da palavra "quando". A certa altura achei que se estava a perder a espontaneidade e desisti. Uma das minhas partes preferidas é dos dentes das pessoas serem lisinhos e os dos tubarões afiadinhos como lápis, que ela, justamente, achava que não era para escrever.
Muito simples: chamaste-me ao quarto para te "aconchegar", a mãe tinha o portátil na mão, viste a família playmobil, que adoras. Estivémos as duas a ler o que somos cada um de nós, depois a mamã perguntou se querias dizer alguma coisa e começaste a falar, a falar, a falar... A minha parte favorita é quanto dizes "muito mas muito muito muito mal", olhas para o ecrã e perguntas "porque é que estas letras estão repetidas?". E respondes a ti própria: "Ah, é a palavra muito!". A mami está que não se aguenta.
Gosto muito da família. Da minha. Gosto muito das minhas irmãs porque são divertidas e gostam de brincar comigo. E também gosto dos meus pais. E também gosto do meu pai. Também da minha mãe. Porque acho que trabalham muito mas brincam comigo também e ao sábado ficam os dois em casa. Por isso, tenho muito tempo para brincar com eles e também gosto deles porque são muito divertidos. Porque gosto da minha família porque é muito divertida e muito engraçada. Quando é de noite os pais dão-me um beijinho. Levam-me ao colo para a cama, só às vezes e quando eu preciso de ajuda, ajuda-me toda a família. A Teresa é muito engraçada para mim quando eu estou a brincar com ela. Às vezes brincamos aos pais e às mães, também com a Quica. Gosto dela, da Quica, porque ela brinca comigo. E quando está de noite despedimo-nos porque não estamos no mesmo quarto. A Teté dorme com a Quica e eu durmo sozinha. Quando os meus pais estão, do tipo, a trabalhar tenho de ficar com a M. mas quando a mãe chega, a M. vai embora e podemos ver um bocadinho de nada de televisão, lavamos os dentes, a cara, as mãos, fazemos chichi, vamos para a cama. No dia seguinte de manhã, eu preparo-me para ir para a escola. E quando chego lá digo bom dia à F., ponho a lancheira na bancada, a mochila em baixo da bancada da sala, o casaco e o bibe no cabide, sento-me no meu lugar, começamos a trabalhar. Quando é hora do recreio vamos brincar e comemos o lanche da manhã. Quando chega a hora de trabalhar, vamo-nos sentar nas cadeiras, arrumar as caixas e essas coisas e temos uns fogetões que são do comportamento. O azul do ótimo, o verde do mais ou menos e o cor de rosa do pior. E depois temos o espaço. Quando alguém vai para o espaço porta-se muito mas muito muito muito mal Aprendemos uma coisa sobre o "o" e o "a" na escola. Quando eu estou em casa com os pais, isto só acontece ao sábado, eles brincam comigo.
Eu, um dia, fui para o Algarve. E quando estávamos lá vimos imensas coisas. Um parque com baloiço de madeira pendurado num ramo, feito com corda e madeira. Antes de começar a escola, eu e a mãe comprámos uma mochila. Depois fomos comprar um porta-chaves para a minha mãe. Depois a minha mãe deu-me para eu pôr na minha mochila porque se houvesse um menino com a mochila igualzinha à minha eu não me baralhava porque a minha tinha um porta-chaves.
Quando eu e os meus pais, as minhas manas e os meus primos estamos num casamento a minha mãe vê sempre flores. E quando eu vejo lá a noiva e o noivo eu fico contente. E quando a mãe vê flores eu entusiasmo-me tanto que pego nas flores e cheiro-as.
Assinado: Madalena
PS: "Disse imensa coisa, não disse? Sou uma faladora!" (Ela ditou, a mãe escreveu)
Fomos avisados na reunião da escola com a professora: a Madalena vai trazer trabalhos de casa às segundas, quartas e sextas. Chocante para dizer o mínimo e nem sou contra os trabalhos de casa nem me vão ver a assinar manifestos contra os TPC. Pelo menos para já. Falamos no Natal quando a carga aumentar para as quatro vezes por semana. Ou na Páscoa quando forem cinco vezes por semana. Vai acontecer. Ela disse-nos. Talvez venha mesmo a ser a mais radical das opositoras aos trabalhos de casa. Para já, como em tudo, só pedia um bocadinho de moderação, porque o assunto, como diz o João, é pertinente.
Qual BES, gostava de fazer a distinção entre os bons trabalhos de casa e os maus deveres.
Na minha visão, romântica possivelmente, o TPC útil é aquele que 1) põe o aluno a praticar o que aprende para usar e para ver se percebeu e em quanto tempo; 2) que obriga o aluno a responsabilizar-se por uma tarefa, por mais simples que seja, 3) que é feito sozinho e 4) que está adaptado ao ritmo da escola.
Não me parece sensato que se mandem trabalhos para casa se a escola fecha às 19.00 e se muitos meninos ficam por lá até essa hora. Mas numa escola que termina as aulas às 16.30 e em que a maioria sai a essa hora, já me parece razoável que os professores peçam alguma coisa. Mas pedir o quê? Uma cópia à sexta-feira parece-me justo. Embora me estrague o fim de semana, nesta fase têm de praticar. É chato mas mais chato é desaprenderem em dois dias o que lhe levou uma semana a saber. Mas fichas exigentes durante a semana? Não vejo a utilidade. Já tarefas de responsabilidade como encontrarem palavras que estejam a trabalhar, obrigá-los a pesquisar o que estudam já me interessaria mais. Tal como serem ensinados a ler este ou aquele texto. Mas, ok, posso mesmo ter uma visão cor de rosa do assunto. E é um assunto que me preocupa.
Faço as contas e acho que ela tem apenas 45 minutos, uma hora no máximo, por dia, para os fazer. É muito? É pouco? Gostava que os pais recebessem orientações dos profes com o tempo que os alunos, por norma, devem dedicar a um exercício. Se tem 20 minutos para fazer um problema, mas só o consegue resolver em 60, tem de praticar mais. Já agora, gostava que essa fosse a única ajuda a dar às crianças.
A diretora pedagógica da escola pediu aos pais para se possível não ajudarem as crianças a fazerem os trabalhos de casa. Ela tem razão. "Temos de ver se eles perceberam". Parece-me que tem toda a lógica e acho mesmo que devia ser sempre assim. Mas será? Ou na hora h vou ajudar a Madalena e nem pio?
PS: Maldita insónia e malditas "Criminal Minds" que me ponho a ver de madrugada e me deixam em sobressalto. Podia mudar de canal? Podia, mas quem é que se consegue separar de um bom doido varrido.
Há uns tempos pusémos a sala escura e alugámos o "Frozen" para as miúdas. Acho que foi um grande programa de família, naquela lógica do "as coisas melhores podem estar debaixo do nosso nariz" e elas adoraram o filme. Durante algum tempo, só cantavam.
A Madalena: leti có, leti có...
A Teté: menigô, menigô...
Agora todas as noites temos de cantar e contar a história com todos os pormenores possívels e imaginários. [Adoro]
A Madalena passou a tarde a brincar com a yorkshire de uma das convidadas da festa de anos da Alice (um ano já, by the way). A parte preferida era puxar a trela da cadelinha. Depois desta conversa, porque sei que esta ideia já lhe anda na cabeça há uns tempos e porque conheço a nossa filha, já sabia o que ia acontecer: mais tarde ou mais cedo, ia pedir-me um cachorro. Pois nem foi preciso sair do jardim para me chamasse para um segredinho. "Mãe, eu quero ter um cão". Dito assim baixinho como quem sabe que está a pedir um Porshe. "A nossa casa é pequena e não temos jardim", dissemos nós. "Arranjamos uma maior", respondeu ela. Antevejo-lhe futuro como dirigente do BE. Do BE ou do BES, não sei bem. Ou no Direito. Porque argumentos não lhe faltam. "Podemos levar para casa da avó e depois fico com ele ao fim de semana" e a derradeira cartada: "Sabem porque é que tenho um cão imaginário? Para vocês verem como trato bem dele."
A Madalena é uma pessoa muito mais responsável do que eu esperava, para alguém que parece ter a capacidade de concentração da Dori do Nemo. Sim, ela não é daquele género menina-sossegadinha-que-apanha-tudo-no-ar. Quer brincar. No entanto, e isto é que me surpreende, quando tem trabalhos de casa, chega a casa e vai logo fazê-los. Não sei se ela o faz poque a professora lhes anda a fazer uma lavagem cerebral rumo ao 1.º ano, se é ela que é assim. Estou com muita esperança que seja o segundo caso. Se for só dela é muito bom. Menos uma coisa para me tirar o sono. E há sempre aquela ínfima possibilidade de ser, na verdade, uma coisa que os pais, com a educação esmerada que lhe dão, lhe tenham transmitido. Tenho dúvidas, no entanto. A julgar pelo que aconteceu na sexta-feira.
Tinha trabalhos de casa e não os fez logo porque tinha recado que era para despachar. No sábado não os fez porque não tinha a pasta, no domingo porque chegámos tardíssimo a casa. Resultado: só fez ontem. Mas com grande empenho. O que é totalmente fascinante.
Sobre os trabalhos de casa. Pois que os traz, sim. Começou a trazer uma vez por semana no segundo período, estamos a aumentar a frequência agora. Não são coisas propriamente complexas. É como se, na verdade, estivessem a ser ensinados a trazer TPC para casa. Devo dizer que acho uma certa piada. Tão crescida. Tão crescida que até diz: "Mãe, o 1.º ano é uma responsabilidade".