Como vos explico isto tão pequenas que são? Uma palavra é uma história, muito mais que milhões de anos de vida, uma palavra está cheia de preconceitos, ideias, uma palavra, a mais simples que seja, é um mundo. E depois de ser palavra, é um momento, um sentimento. O mamã de quando chego a casa nao tem comparação com o mamã magoado de quem acaba de esfolar os joelhos, de quem acorda de manhã, de quem quer pedir gomas no fim de um dia de escola. As palavras contam e também conta como as dizem. Algumas pessoas podem chamar-lhe karma, seria mais certo chamar-lhes tão simplesmente respostas. Digam boas palavras, receberão boas palavras. É magia.
Porque não há nada mais triste do que chegar aos 40 anos sem saber lavar roupa, coisa que me parecia impossível até há um mês, aqui fica um manual em 10 passos:
1. Ler sempre as etiquetas da roupa. Ficarão surpreendidas com a quantidade de coisas que não podem ir à máquina ou ser limpas a seco.
2. Em caso de dúvida, sejam conservadoras. Lavem sempre a frio ou à mão.
3. Separem a roupa por cores: branca, escura, de cor. Façam um degradé de cores. Verdes com verdes, vermelhos com vermelhos, amarelos com amarelos e por aí adiante.
4. Dividam a roupa por tecidos. Sintéticos para um lado, naturais para o outro. Um camisolão de lã branco não se lava com um top de licra.
5. As lãs lavam-se SEMPRE à mão. A não ser que a ideia seja parecer que vestiram as roupas de um anão.
6. Usem amaciador para dar cheirinho e um toque macio à roupa.
7. Tenham sempre uma barra de sabão à mão para emergências.
8. Para melhores resultados, detergente em pó na roupa clara, detergente líquido na roupa escura.
9. Os ténis ficam muito bem lavados na máquina mas nunca sozinhos. Misturem com tapetes, por exemplo. E tirem os atacadores, se faz favor.
10. No fim do inverno mandam sempre os casacos grossos para a lavandaria.
A mãe devia ter uns 10 anos e alguém disse à avó a carrinha da biblioteca estava no largo do café e ela foi a correr comigo fazer-me sócia e requisitar livros. Pareciam-me todos velhos e gastos, não queria nenhum. A mãe era uma menina um bocadinho caprichosa que só queria ler livros novos comprados ao domingo - depois da missa e antes do almoço - na livraria Ovni, no jogo da bola, para serem lidos pela tarde toda deitada no tapete fofo do quarto da avó. Onde ninguém fazia barulho e havia mais luz. Mas um dia aconteceu isso, fazer-me sócia da Biblioteca Itinerante Calouste Gulbenkian, onde o condutor era simultameneamente crítico e conselheiro literário. E foi assim, tão simplesmente, num exemplar pelo menos tão gasto quanto o da foto e sem saber que estava a ler uma das maiores autoras da língua portuguesa, que me cruzei com um dos melhores livros de sempre. Dos meus 35 anos de vida.
A coordenadora da escola disse-me que está tudo a correr bem com a Madalena. A correr bem, não. Disse uma coisa muito mais extraordinária: "Ela é uma menina que vibra com todas as actividades". E eu fiquei tão contente.Tão contente que poderia ter chorado (nada de novo, portanto!). Isso tem muito a ver com o que escreveu a Joana, a minha amiga Menina Rapaz: "Há pessoas que não aprenderam a felicidade quando eram crianças. Nem a generosidade. Ou a tolerância. Há pessoas que não sabem ser felizes". E que bom que ela verbalizou isto.
Claro que todos os pais desejam que os seus filhos sejam felizes, mas o que parece que nos esquecemos é que não se é feliz. Tornamo-nos felizes. É uma 'coisa' que se vai construindo. Bem, claro, que eu acredito que uma alimentação equilibrada ajuda. A sério que acho. No fim das contas, isto é tudo químico. Mas aprender a ser feliz é das melhores ferramentas que uma pessoa pode aprender. Não deve haver uma receita. Deve ser um daqueles assuntos em que uma pessoa tem de estar sempre alerta...
Uma pessoa pode tirar grandes ensinamentos de conversas de café, não me digam que não. Por exemplo, disse-me no outro dia um vizinho meu que não conheço de parte nenhuma que uma coisa que o irrita na filha mais velha é que seja parecida com ele e tão preguiçosa, porque ele era preguiçoso e sabe o que perdeu por causa disso. E é isso mesmo. Portanto, miúdas, já sabem, quando a mamã, chata como tudo, vos disser que é preciso aprender a cozinhar, ir às finanças tratar do IRS e que não podem comer doces a toda a hora é porque sei o que estou a dizer. Mas se houver dúvidas, posso elaborar uma lista, ok? Está prometido.
Ando para mais de há um ror de tempo para escrever aqui sobre aqueles artigos de família que saem nas revistas (normalmente, as semanais; normalmente, a 'Sabádo', a 'Visão', a 'Notícias Magazine'...). Aprende-se sempre qualquer coisa, mas muitas vezes já tenho acabado a enrolar a revista e a mandar com ela para um canto tal é a indignação. No outro dia, por exemplo, a 'Sábado' escreveu sobre essa coisa que é "os filhos nunca pensarem que têm tudo de mão beijada" e a oferta de carros, com casos reais e a opinião de uma especialista que achava muito mal que uma família desse um Mini novo a uma miúda de 18 anos e muito bem que uma família fizesse o filho pagar com as suas poupanças um carro usado.
Primeiro, gostava muito de me lembrar do nome da psicólogo para nunca a consultar. Este é o género de coisas que me põem os cabelos em pé. Porque embora esteja de acordo que os filhos nunca devem pensar que as coisas aparecem só porque sim, de mão beijada, tudo isto é relativo. Tão relativo que, para as mentes de classe média oferecer um carro zero quilómetros é um luxo, para alguém que nem a carta de condução pode oferecer a um filho, dar-lhe um carro usado é um presentão.
Tenho muita pena que as boas ideias sejam impregnadas dos nossos preconceitos e, sendo impossível fugir deles, que não consigamos ver para além da nossa vida.
Que a miúda que recebe o Mini e quando bate com o carro não tenha de pagar um tostão não me parece bem nem mal. O que me importa saber é o esforço que a família está a fazer. Não comem, não saem, não passam férias para lhe dar um carro? Está mal. O mesmo para a família que comprou o carro usado. Há sempre um contexto. Mas os valores estão para lá do contexto. Ser poupado, sem ser avarento, vale para quem 10 ou para quem tem mil. Valorizar o que se tem vale para quem tem muito e para quem tem pouco. E por aí adiante...