Rumo aos 42. Dias 4, 5, 6 e 7. PhotoEspaña
Dos muitos trabalhos que faço ao longo do ano, nenhum é mais importante do que a PhotoEspaña. Creio que a maioria não quer saber, o que não me pode demover do plano de noticiar o que se passa no festival, pois não é apenas um trabalho jornalístico que é publicado. É um trabalho de fundo que enriquece tudo o que faço nos restantes 360 e tal dias que se seguem. Quanto mais conheço, mais bem posso informar as pessoas. Isto, sentido comum entre jornalistas, é talvez novidade para quem nunca pisou uma redação.
Uma das missões do festival é educar o olhar, como diz a diretora. Claude Bussac dizia ao DN por estes dias, que o festival tinha mudado muito nos seus 20 anos. Se recuarmos a 1998, nós, os adultos, ainda nos lembramos: internet pouca e fotografias só quando alguém levava a câmara. Inúmeros jantares de turma, encontros incríveis e outros acontecimentos parecem não ter existido, porque simplesmente não havia fotografia. Em casa dos meus pais, sem ir mais longe, o meu pai tirava centenas de fotos nas férias – temos uma boa coleção, mas no resto do ano havia pouco esse hábito. E a minha mãe nunca se interessou pelo assunto.
Era preciso (ainda) levar os rolos à loja de fotografia e revelá-los. Que revolução que foi quando passou a demorar apenas um dia ou umas horas! Quando voltamos do Disney World havia seis rolos e na loja, em Mafra, antes de nós vermos as fotografias a senhora disse: “tem aí fotos muito bonitas”. Foi em 1991, mas era quase igual em 1998. Ainda.
Foi tudo bastante rápido, portanto. Dez anos e estávamos no digital. 2008. Já todos os fotógrafos dos jornais usavam máquinas digitais. Os nossos telefones já tinham câmaras, as redes sociais tornaram-se coisa do quotidiano. Eu inscrevi-me no Facebook durante a licença de maternidade. Era a janela para o mundo das pessoas que conhecia. Ainda é.
Claude Bussac explica que “hoje o nosso desafio é o papel do fotógrafo como autor”. Percebo-a. Se todos tiramos fotos e isso é bom, nem todos somos Alberto Korda ou Robert Capa. Faz uma boa comparação. Todos sabemos escrever, nem todos somos Nobel.
Treinar os olhos para as imagens como fazemos com a leitura, até ao ponto em que, sem esforço, somos capazes de distinguir o bom do mau texto, está a tornar-se, parece evidente, numa necessidade total nesta era de instagram, informação servida num ecrã, e, mais importante que tudo, porque todos a podemos fazer. Talvez daqui a muitos anos a gente olhe para trás e perceba que os telemóveis fizeram pela imagem o que o lápis fez pelo desenho e pela escrita – uma revolução.
Isto aconteceu o ano passado e voltou a passar-se este ano: estar em contacto com milhares de imagens boas faz com que depois, no espaço de horas, estando já na minha vida 'normal' seja muito mais exigente com o que está à minha volta. E isso é ótimo para o trabalho que se segue.
|Crédito: Prue Stent & Honey Long, no Centro Cultural Fernán Gómez|