Parabéns, conseguiram. Tenho medo
No 11 de setembro, achei que aquilo não passava de um (trágico) ato isolado. No 11 de março, assustei-me mas era jovem, devia ser insconsciente. Londres é Londres, tudo pode acontecer. Como ninguém entra na Síria nem sabemos realmente o que lá se passa. Charlie Hebdo era um ataque à liberdade de expressão. Custou, mas havia um alvo concreto. E havia sempre, sempre aquela coisa de viver em Lisboa. Lisboa fica em Portugal e Portugal não conta para o totobola. Transtorna, mas ultrapassa-se.
Ontem foi diferente. Podia ser um dos primos do António que vive em paris. Podia uma pessoa qualquer que tivesse ido passar o fim de semana a Paris e que eu conhecesse. Podia ser uma das pessoas que emigrou nos últimos anos. Podemos estar sentados numa esplanada, a rir, a prepararmo-nos para dar um golo num gin tónico e tudo acabar aí.
Não é seguro andar pela Europa, concluí. Um medo a sério que estou a confessar por uma razão simples: esse é o objetivo de quem espalha o terror. Dos terroristas. Não me vou vergar a isso, a sério que não. Não vou viver a olhar para a sombra. Nem vou contaminar a vida das miúdas, impedindo-as de irem para onde quiserem porque tenho medo. Porque tenho.
Mas foquemo-nos no que realmente importa: o que fazer nesta situação? Como é que se vai acabar com esta situação? Qual é a atitude a tomar? Vamos viver num Estado securitário? Achamos que é preciso mais segurança? Queremos deixar essa palavra nas mãos do partido de Marine Le Pen? Eu não quero. Não quero nada que atentem contra as liberdades individuais, nem quero filmes tipo "Homeland". Porque é que os franceses têm de passar por isto tudo duas vezes? O que é preciso fazer para mudar o estado das coisas?
(ilustração: Jean Julien)