O Supernanny é uma seca
Já não estou às escuras, vi um bocado do programa no domingo à noite. É por isso que estou em condições de dizer que esta controvérsia é uma seca. Argumento contra: expõe a intimidade das crianças. Argumento a favor (que só ouvi à SIC, ontem à noite, num debate): ajuda os pais, hoje a ideia de exposição é totalmente diferente. E, pronto, tudo se resume a isto.
Ana Sousa Dias escreveu uma boa crónica sobre o assunto, onde se diz quase tudo. Revejo-me nela quando fala das suas próprias limitações como mãe. Não nos sentimos todos nós assim? Frustrados/ culpados por não sermos esses pais perfeitos que íamos ser quando os miúdos não existiam? Talvez eu seja demasiado permissiva ou pouco poética, mas o facto é que mais daqui ou dali as crianças são todas bastante parecidas. Anjos quando dormem, de levar os adultos à exaustão quando estão acordadas. Talvez ajude serem acompanhadas, mas fazer birras é normal aos 5 anos. Pois se conhecemos tantos adultos que o fazem, como havemos de pensar que crianças podem controlar-se. Ou mesmo que DEVEM controlar-se...
E, por outro lado, quem é o pai ou mãe que querendo despachar as coisas ao fim do dia, a cabeça como um bombo de trabalhar, não perde a paciência com os filhos, eles próprios cansados de um dia na escola (mais atividades e o diabo a sete). Eu sei quem é esse pai. Chama-se Cristiano Ronaldo e tem milhões para despender em nannys, super ou não. Ter dinheiro para descansar é a maior ferramenta de educação.
Portanto, nada há de excecional naquela família que vi ontem. São apenas um marido e mulher com dois filhos, precisam de trabalhar e de repartir com os filhos as tarefas diárias, não para que eles aprendam, porque lhes vai ser útil, mas porque é necessário (grande diferença!).
Estou apenas a falar do segundo episódio, mas o grande problema da educação em Portugal é todos os elementos da família terem de trabalhar, passarem pouco tempo a descansar e uns com os outros.
Quanto ao programa propriamente dito, além de ser muito pobrezinho nas imagens, na construção da narrativa, claro que expõe as crianças e, pior, expõe a partir da falsa ideia de que estes miúdos são diferentes dos outros miúdos daquela idade. Era aqui que queria chegar: não são. E mostrá-los no seu pior momento (real ou encenado) é mau precisamente na era das redes em que só se partilha o bom e bonito. Se há um lugar onde podemos mostrar apenas o nosso melhor lado, para quê deixar nas mãos de outros o lado mais feio?