O estado da arte
Umas coisas levam-nos às outras. Estava a pesquisar sobre a semana da moda de Paris quando me lembrei de ver o que teria dito sobre o assunto a Suzy Menkes. Sabia que ela tinha saído da Condé Nast (e da Vogue) e descobri que continua escrever no site com o seu nome, que tem uma conta de Instagram com 500 mil seguidores e um podcast, Creative Conversations. que se tornou a minha companhia sempre que saio de casa. Suzy Menkes é uma jornalista que admiro vai para mil anos, porque escreve muito bem, porque aprendo sempre qualquer coisa com ela e porque se alguém importa, ela entrevista. Philip Treacy, Wes Gordon, Maria Grazia Chiuri, Giancarlo Giametti, Laudomia Pucci, Rosita e Margherita Missoni, Valérie Steele...
Em 2015, num momento afortunado, entrevistei Valerie Steele, historiadora que tem dedicado a vida e o intelecto a estudar a moda (como diz Suzy Menkes). Era um dia frio de novembro, conversámos no jardim do Museu do Traje, em Lisboa, eu tinha um cachecol grande à volta do pescoço (daquela altura em que toda a gente parecia andar enrolada numa manta) e ela comentou, circunspecta, que era o tipo de coisa que parecia muito presunçosa em Nova Iorque, mas tão normal na Europa. Não estava sequer a falar de mim, ela para si mesma. Foi uma conversa tão boa! Daqueles dias em que cheguei a casa e me senti feliz e abençoada por ser jornalista e poder conhecer tantas pessoas diferentes e ir a tantos locais que, de outra forma, nunca conheceria. É uma das melhores sensações do mundo. Dá muita saudade...
Parece que isso foi há muito, muito tempo (e foi), mas ao mesmo tempo parece que nada avançou - um hamster a correr, a correr, na roda.
Com a família tudo bem. É bom estarmos juntos, aprecio esses momentos e, quando olho para trás, sinto amor por esses momentos no ninho em família. Mas não há só isso. São muitas coisas ao mesmo tempo. trabalhar, ouvir as histórias, seguir os estudos (falta o ar de pensar na próxima semana), manter a ordem, fazer exercício...
Há muita coisa frustrante neste quase último ano de vida. Tudo é 'culpa' da pandemia ou a covid-19 tem as costas largas? É de estarmos fechados, do confronto que a pessoa tem consigo mesmo, de não se poder mexer, de não ter onde gastar energia, da falta de imprevisto, de evasão...De onde vêm estas coisas que nem sabíamos que existiam? Como lidar com isso?
"A vossa geração é a mais sacrificada, têm tudo sobre as costas. E os avós não podem ajudar", disse-me uma sábia pessoa esta tarde. Uma coisa tão simples, soube bem ler e deu muita vontade chorar. E podemos chorar, não tem mal nenhum chorar, mas de que serve?
Uma pessoa muito querida aconselhou-me a pôr tudo em perspetiva, especialmente o que não corre bem. Ela tem razão, vejamos se é possível. In the end, isto mais não é do que a vida. Não será assim para sempre e o tempo acabará por nos dar uma resposta. É nisso que me concentro.