Junho
Em junho, quando a escola acabava havia praia. Continuei a ir depois de terminar a primária e nessa altura tinha o privilégio de conviver com miúdas que achava muito à frente. Que preparavam a sua própria mochila e lanche. Que usavam biquínis fixes. Que sabiam jogar à sueca e à bisca. Havia a intrépida e divertida, as responsáveis, a brasa, e aquela rapariga que, apesar de ser da minha idade, também já era muito à frente. Aos 10 anos, distinguia-se, distinguiu-se sempre, pela capacidade de pensar pela sua própria cabeça. Nessa altura, eu não era capaz de pôr isto em palavras, mas era isto que se passa: ela era digna de admiração porque nunca ia com o rebanho.Quando cumpriu uma década de vida, finalista do quarto ano, os rapazes da nossa sala mimaram-na com presentes de todas as formas e feitios, perante a estupefação das demais raparigas. Ela, além de ser das melhores alunas e uma das mais giras, ao contrário das outras miúdas, sempre foi ciosa das suas coisas e dos sentimentos. Não me lembro de a ver metida em confusões.
Tive-a sempre, mesmo sem pensar muito no assunto, por uma pessoa que manteve essa característica, esse brio com o que é privado, algo que gostaria de honrar neste momento, num equilíbrio impossível entre a empatia devida, a homenagem que devemos às pessoas que consideramos admiráveis e o respeito pela condição humana.