Estive a fazer limpezas e comecei no Twitter
Três tarefas importantes foram levadas a cabo nestas folgas:
- Pus o wi-fi a funcionar como deve ser em vez de passar os dias a queixar-me que estava uma porcaria e a desesperar;
- Atualizei o software e limpei mais de 240 ficheiros de qualidade duvidosa. Mais de 240. 240! Uma bandalheira que isto estava;
- Deixei de seguir o Trump no Twitter. Era o maior vírus de todos.
O meu gesto é insignificante, que é, mas estou aliviada e, mesmo pequena, sinto que fiz uma coisa mesmo bem feita. Primeiro, porque o inominável pode ter todas as contas que quiser e comunicar como bem entende, mas prefiro ler o que ele diz enquadrado pelo trabalho jornalístico dos meus colegas que acompanham a atualidade internacional. Se algum me tiver de ser eu a fazê-lo logo reverto e volto a acompanhá-lo. Para já não quero fazer parte das não sei quantas mil pessoas que o seguem. Porque do outro lado o que aparece é que sou uma entre não sei quantos milhões a quem a sua mensagem chegou, concordando ou não.
Nesta época de comunicação em rede, sinto muitas vezes que nos usam como figurantes num filme sem nos pedirem autorização. Nós achamos que contamos, que temos um papel (pequeno que seja), e não. Estamos ali a encher. É como seguir as Kardashian. Mal não faz, mas fará bem?
Mas, ao que ia, Trump. A política em relação a este homem -- um patife cuja honestidade está por provar -- tem de ser a do desprezo. DESPREZO total. E, sobretudo, as pessoas como eu, que podem não o ver, ouvir ou ler, não precisam mesmo de o ver, ouvir e ler. Não é que não queira estar informada, é apenas ter a descontração de poder dizer: se for mesmo importante, vou saber. Há de passar na televisão, alguém me vai avisar. Claro que ao escrever um post sobre isto estou a contradizer-me, mas, bom, queria mesmo pô-lo em palavras.
Quanto menos atenção se prestar a pessoas como Trump, melhor, como poderiam explicar, e bem, todos os italianos que tiveram de conviver com Berlusconi. O que digo tornou-se ainda mais evidente depois do magnífico discurso de Meryl Streep na gala de entrega dos Globos de Ouro (na nossa madrugada de segunda-feira). Ah, como gostei daquele discurso.
O problema, como falámos a Catarina e eu, a caminho dos Prazeres, para dizer adeus a Mário Soares, a única coisa que saiu desse discurso foi o aplauso daqueles que já concordam com ela e a oportunidade do inominável dizer que as celebridades podem ficar onde estão, porque ele está com as PESSOAS. E escrevia-o assim mesmo: com maiúsculas. Como se ele fosse a única pessoa preocupada com as pessoas. Como se ele realmente estivesse preocupado com as pessoas (a julgar pelos brancos milionários que tem convidado para os cargos da presidência).
A Catarina, que é cidadã norte-americana e está sempre muito atenta, falava-me de um artigo do Politico muito crítico em relação a este discurso, uma nova perspetiva para o que está a acontecer. Meryl Steeep queixava-se de Hollywood ser vilipendiada, assim como os estrangeiros e a imprensa, e é verdade. Mas ele já foi eleito, passámos essa fase. Chegou a hora de o julgar pelo que faz hoje, sem peninha de nós próprios. Sem pena das celebridades, que são atacadas mas podem falar e voltam para casas aquecidas, frigoríficos cheios e wi fi enquanto milhões de pessoas sem voz estão sem trabalho e simplesmente não têm qualificações para o que se segue. Os progressistas são o sistema. É bastante sufocante o que temos pela frente, e foi também nisso que me concentrei nesta despedida de Mário Soares. Ele fez muito pela liberdade e agora é a vez da minha geração pôr mãos à obra. Talvez pareça tarde, mas de certeza que não é. Soares tinha 49 anos e tudo pela frente quando chegou a Santa Apolónia naquele 28 de abril de 1974. Ainda se pode fazer muita coisa, portanto. É dessa muita coisa que fala Obama, não é?