Elas
Mãe e filha são das Honduras. Passaram um mês em viagem, sabe Deus como, para chegar à fronteira com os EUA e entrar nesse país. Soubemos delas pelas fotografias do norte-americano John Moore que passou dias com a polícia fronteiriça e viu de perto o que é tentar a sorte, ser apanhado, detido, identificado, arriscar a deportação, e, por estes dias, ser separado de um filho.
"Eu só queria acabar com o choro dela", disse Moore, no papel de entrevistado, a propósito destas pessoas que o emocionaram, que o arrancaram do papel de jornalista ou, justamente, o puseram realmente no papel de jornalista (ainda não sei bem). Desconhecemos os seus nomes, detalhe sem importância, já que mãe e filha são, na verdade, rostos da crueldade.
Os números não são oficiais, nem sequer claros. Alguns jornais falam em mais de 1300 menores, outros em cerca de 2000, o The New York Times escreveu 2300. Alguns viajavam sozinhos, outros foram separados das famílias.
Há outra crueldade. Imaginar, como imagina a secretária de Estado da Segurança Interna dos EUA, Kritjen Nielsen, que há quem 'mande' os filhos numa jornada de meses, às mãos de máfias, porque acha excelente ideia. Porque acha que é boa solução. É o que ela quer dizer quando afirma que "a vasta maioria das crianças ao cuidado da Segurança Interna foi mandada sozinha pelos pais para aqui", não é? É tão fácil estarmos sentados nos nossos sofás confortáveis, com o frigroífico cheio, a certeza de bons cuidados de saúde e educação e acreditar o mundo inteiro vive da mesma forma...