Baixou em mim um taxista (sim, de novo)
Foram processados por discriminação os hotéis que proibiam a entrada de crianças. Logo apareceu um coro de vozes dizendo que estava muito bem (a existência de tais sítios) e muito mal que haja queixas judiciais, porque os adultos querem sossego. Quero, em primeiro lugar, notar a extraordinária sensibilidade das pessoas. A mim, não me incomodam nada os filhos dos outros, só mesmo as minhas, porque gritam a toda a hora "mãe, mãe, mãe". Demasiada sensibilidade, digo eu. Mas o que me põe nerviosa mesmo são aquelas vozes que logo acrecentam que a eles o que os stressa são os pais que não se preocupam que os filhos corram e façam barulho -- sejam crianças, vá. Com isto é que implico muito, desculpem lá. Primeiro, porque, sem ir mais longe, ontem à noite, estava a tentar ter um jantar romântico com o meu esposo e o grupo, enorme, de pessoas que jantou ao nosso lado não fez a coisa por menos e decidiu ficar a conversar DE PÉ entre a nossa mesa e a deles. Please! No entanto, ok, compreendo: nem se aperceberam. Vamos dar o desconto. E vamos, se faz favor, dar o desconto às crianças. Deixar correr, ser pequeno, levar uma reprimenda quando é necessário, deixá-los gritar, serem eles próprios. Uma das coisas mais tristes de ser criança hoje é que a "boa criança" é aquela que fica paradinha e quieta sem fazer barulho, agarrada ao iPad. Para cúmulo, boa parte das pessoas que dizem estas coisas nem filhos tem. E, por favor, não me digam "mas tenho sobrinhos, sei como é", porque não é o mesmo nem sabem o que dizem. Confiar a educação de uma criança a um fundamentalista, e sensível, do comportamento público das crianças é o mesmo que os inscrever na universidade dos psicopatas. Uma criança é uma crianças e uma pessoa é uma pessoa. Temos de nos aceitar como somos. Mesmo que isso, de vez em quando, implique um pouco com o nosso sossego ou com a nossa expectativa de ter uma tarde postável no Instagram.