Sobre partilhar a intimidade dos filhos #2
Fico realmente nervosa quando as pessoas se escandalizam porque partilho fotos das crianças no FB. Compreendo o ponto mas FOTOS não são as PESSOAS. O que é uma gigantesca diferença. E fico nervosa porque deixo a Madalena, a pessoa da Madalena, inteira, na escola, rodeada de pessoas que não conheço (e um dia deixarei as três). Que me estão a dizer? É uma coisa que me põe fora de mim. Já li uma professora escandalizar-se com esse uso de fotos e isso então... Deixa-me com um nó tal que tento não pensar demasiado no assunto ou as miúdas vão aprender a ler, escrever e contar em casa.
Sei que o texto vai muito para além disso, e preocupou-me mais agora porque andamos com a mania das fotos por tudo e por nada, mas realmente tendo a desvalorizar esse stress brutal em torno das coisas que se podem saber das crianças. Não pode ser primeiro-ministro porque a mãe disse que ele fazia chichi na cama até tarde? Pá, o que é que isso quer dizer? Que um homem divorciado não pode exercer um cargo político? Ou um gay? Qual é a intimidade que é aceitável partilhar? A Teresa vai zangar-se porque a mãe contou que ela diz 'vanho' e 'vola' e cortou o cabelo à irmã? Ou a Madalena porque contei que ela tinha amigos imaginários? Ou a Francisca porque conto que deixei de lhe dar de mamar? Não contamos coisas destas a pessoas relativamente estranhas e não apenas aos nossos amigos? E se, pelo contrário, como a mim e ao meu pai, acontecer serem brutalmente curiosas para saber de onde vêm e como era o mundo antes de terem memória e o córtex cerebral totalmente desenvolvido? Lá está, depois, outro problema: porque razão se acredita que a vida das crianças se resume ao que os pais escrevem no blogue? Porque é que se acha que a vida das pessoas é apenas o que aparece contado, contado porque a pessoa decidiu contar? Por que razão nunca se pensa no que não aparece escrito porque o autor não quis escrever? Não sei. Sei que, pelo contrário, já esclareci imensas dúvidas em relação a vários temas ou fiquei simplesmente contente porque outras pessoas puseram em palavras os meus sentimentos lendo blogues. Sigo vários e nem sequer me parece que expliquem demasiado ou mostrem demasiado sobre as suas vidas. Não seria capaz de reconhecer os filhos da maoria das pessoas a não ser que estivessem com as suas autoras. Mas bom, isto sou eu, que quero mesmo muito fixar em algum sítio coisas pequeníssimas do mundo das minhas filhas. E ainda não tenho uma opinião definitiva.