Sobre a TV que se vê (e que as crianças não podem ver)
Já se sabe: eu sou adepta que as crianças vejam TV. É uma óptima forma de entretenimento, logo que os pais não se limitem a conhecer o botão do on. Se soubermos o que eles vêem não há stress. E se não gostarmos, eles não vêem e pronto. E como não tenho paciência para conversas do género "a televisão é terrível", como se estivesse num episódio do Conta-me como Foi, não imaginam a minha cara quando os pais de duas adolescentes me dizem que as miúdas, por opção deles, só têm os quatro canais generalistas. Estive a ponto de lhes dizer que para terem isso mais valia nem terem televisor em casa. Contive-me. Mas é exactamente o que penso.
Já sabia e agora que passo tanto tempo em casa tenho ainda mais certeza. Mas que grande porcaria. E, pior, a degradação em dois anos e meio (a minha outra licença de maternidade) é abismal. Não há um único programa do horário nobre dos quatro canais que me interesse (eventualmente, o Milionário). Durante o dia é só desgraças e coitadinhos. A voz da Leonor Poeiras seria capaz de enervar a Madre Teresa de Calcutá. O José Figueiras nem menciono. Os Morangos não estão divertidos. Uma seca. Valha-nos, pois, o Cabo, onde há as notícias e, afortunadamente, séries como as que venceram os Emmy, o Mad Men e Uma Família Muito Moderna. Ter um adolescente em casa e privá-lo deliberadamente destes conteúdos de qualidade é que é um crime.