Passar a Palavra - Having children is overrated
Este é o quarto Passa a Palavra mas, ao contrário da Mil Sorrisos, da Joana e da Vanda, a Vânia não tem filhos. Conheço-a porque trabalhámos juntas e quando começámos ainda não tinha Madalena nem Teresa. Confesso que me surpreendeu o texto, e é a primeira vez que a própria Vânia sabe isto. Esperava algo cheio de sarcasmo sobre as mães que não vivem sem os rebentos e apareceu algo completamente diferente e bem mais interessante: aceitar uma vida sem filhos. É ler. E comentar, se puderem. Quero conhecer opiniões.
Having children is overrated
Tudo começou em setembro. Estava a traduzir um texto e deparei-me com esta frase. Não lhe consegui ficar indiferente e fiz questão de a publicar no blog. Tudo porque ser mãe era o meu sonho de infância. Com menos de 20 anos de diferença da minha, sempre achei que ela tinha feito a escolha certa ao dar à luz tão cedo e era minha intenção seguir-lhe os passos. “Com 25 anos será um pouco tarde”, pensava eu, do alto dos meus 12 anos, enquanto fazia contas para tentar conciliar maternidade com faculdade. O que viria depois ainda não me passava pela cabeça. Para o relacionamento entre pais e filhos ser perfeito é importante que a diferença de idades seja pequena. Para que se consigam entender e tocar em determinados pontos, defendia eu, baseada na experiência empírica de tudo o que me rodeava. A verdade é que a vida nos troca a voltas, mesmo quando somos tão determinados que, ainda pré-adolescentes, já temos planos para todo o nosso futuro. As relações não são tão simples como queríamos que fossem, as oportunidades profissionais não podem ser desperdiçadas e o tempo corre à velocidade da luz enquanto estamos distraídas com a realização pessoal. Realização essa que também passa por sermos mães. E é aqui que entra o busílis da questão. Se a vida não nos dá essa graça - seja por doença, falta de parceiro ou até de questões financeiras -, será justo condenarmo-nos porque, de certa forma, falhámos? Ou deveremos parar para valorizar o facto de nos termos mantido fiéis a nós próprios e aos nossos valores? Há caminhos que não se cruzam com o nosso, simplesmente. Saber aceitá-lo também é uma dádiva. Conseguir ser feliz com isso, um dever.
