Esta semana, falei com António Araújo, diretor de publicações da Fundação Francisco Manuel dos Santos, a propósito de novos lançamentos. Entre os muitos assuntos que saíram dessa conversa, impublicável na íntegra por ter durado duas horas (duas horas que pareceram dois minutos, como sempre acontece com as pessoas com a cabeça bem mobilada), falou-se da universidade e desta tendência que nós, pais, temos de querer dirigir os estudos dos nossos filhos para a empregabilidade. É uma coisa que começa nos bancos da escola primária e que se perpetua até à universidade e que tem obrigado o ensino superior a moldar-se.
É sobre isso que fala um dos ensaios publicados pela Fundação, A Universidade como deve ser, de António Feijó e Miguel Tamen, que, desconhecia, mas adorei passar a saber, foram as pessoas que 'inventaram' a licenciatura em Estudos Gerais na Universidade de Lisboa. Parêntesis: Um curso em que o aluno é que faz o seu plano de estudos (Que sonho!). Eles defendem essa ideia de que a universidade não deve estar preocupada com o mercado de trabalho, mas antes com a sua missão: dar conhecimento. Estou a simplificar o que eles próprios simplificaram numa entrevista em formato podcast que parte, justamente, desta pergunta: A universidade deve preocupar-se com a empregabilidade?
Tudo o que eles dizem me parece certo. Mais liberdade para os estudantes, mais formas de compor uma cardápio de conhecimentos. Têm razão. Porque a maior perversão do mercado de trabalho é que quanto mais preparados estamos para ele, menos diferença vamos fazer. Que é, no final das contas, o que fará de nós trabalhadores mais valorizados.
A lógica da coisa é inatacável... exceto num pequeníssimo ponto.
É que tudo isto só funciona se estas escolhas partirem de um ponto de vista já muito informado ou, dito de outra forma, só sendo já muito qualificado, e vindo de um contexto muito qualificado, é que podemos fazer esse salto para piscina sem conhecer o fundo. Quem parte de uma base de conhecimento mais baixa, precisa de fazer opções mais seguras. Isto é: aprender uma profissão na universidade que garante mais empregabilidade. Ou seja, continua tudo na mesma. Quem começa mais direito, vai continuar a andar mais direito.
Portanto, teremos de continuar a dizer aos nossos filhos para estudarem. E para estudarem muito, se quiserem ter opções. E teremos nós próprios de continuar a estudar, e a estudar muito, se quisermos ter opções.
Sobre isto podem ouvir Mazgani, na entrevista a Inês Meneses na rádio Radar. A certa altura, o músico conta o que o pai lhe disse quando informou aque ia deixar o curso de Direito a meio. "Termina. Se não concluíres, as pessoas vão pensar 'este gajo está aqui no mercado quando podia ser juiz'. Se completares, pensam 'este gajo é muito esperto, podia ser juiz mas está no mercado'". É por aqui (nº16).
Já tinha pensado nisto: quando nasceu o coração? O dia trouxe-me a oportunidade e, nem que fosse só por isso, já tinha valido a pena. A história é esta: parece que a forma é quase tão antiga como nós no mundo, mas só no século XIII (por volta de 1250) foi usado para simbolizar o amor. Julga-se que aparece pela primeira vez numa iluminura da letra S no livro francês Roman de La Poire, de um tal Thibaut, com ilustração de um tal de maître de Bari, que, sem saber, ainda muda a vida de todos nós. Feliz Dia de São Valentim. Muito amor. Sempre. De todos os tipos.
PS: Faz 15 anos que o dia dos namorados é espetacular.
Dos filmes nomeados para os Óscares, já vi o documentário curto Heroín(a), Dunkirk, Três Cartazes à Beira da Estrada, I, Tonya, Call me by Your Name e, o que mais tocou até agora, The Florida Project, que não está nomeado para melhor filme, só Willem Dafoe para melhor ator secundário, e que é aquele que não me sai da cabeça.
É um filme sobre uma miúda de seis anos e os dois amigos que se encontram num motel cor de rosa ao lado do Disneyworld, onde ela vive com a mãe. Vagueiam pelos arredores, expostos a muitos perigos, protegidos pelo gerente (a personagem de Dafoe). Comem pizza e doces quando calha. É um filme sobre a infância, sim, mas o tempo todo me perguntei: o que é ser boa mãe?
Há uma coisa que já não se aguenta ler sempre que um político torna público que é gay: "Que coragem".
Como um dia escreveu António Guerreiro no Público, coragem têm um trolha ou um camponês quando, num circuito fechado, e muito mais preconceituoso, se assumem gays.
Um político é outra coisa: é quase uma prova de ética. De que quer viver uma vida transparente. E isso, não sendo valentia (porque apesar de tudo já não estamos aí) é mais do que suficiente para admirarmos pessoas como Adolfo Mesquita Nunes (CDS) ou Graça Fonseca (PS).
Mas, convenhamos, políticos e artistas tornarem público que são gays não é ainda uma afirmação. É um ato. O ato de afirmar e o ato de serem elas a dizê-lo. Ainda vale pelo que as pessoas são. Pessoas como Adolfo Mesquita Nunes ou Graça Fonseca, que parecem sensatos, que têm uma profissão que se recomenda, opinião, bom aspeto e um ar cosmopolita são excelentes exemplo e fico feliz por termos estas pessoas à nossa disposição, especialmente porque ainda temos de conviver com imenso preconceito. Mas, lá está, afirmar-se gay ainda é uma coisa que não vale por si. Ela vale pelo que estas pessoas são na vida pública. E pelo seu bom comportamento como cidadãos. Por exemplo, um político acusado de corrupção tornar público a sua homossexualidade teria outra leitura.
Portanto, e apesar de atabalhoado, o meu ponto é este: precisamos de novos desafios no que a este assunto diz respeito:
1) Entrevistados que dizem naturalmente 'o meu namorado/marido", sem precisar de fazer disso trending topic no Twitter.
2) Entrevistas em que o melhor título não é "Sou gay".
3) Assumirmos que há pessoas gay de todas as cores e feitios e que nem todas vão ser ícones da moda, apresentadores super bem sucedidos ou políticos que fazem coisas notáveis. Alguns gays são como a maioria das pessoas. Cidadãos que vão passar à história sem história nenhuma para contar. Alguns são até vilões. Nenhuma dessas coisas interfere com o facto de serem gays ou com o respeito e igualdade com que devem ser tratados. Ser gay não dá bondade, não dá um ouvido especial para a Eurovisão ou mais estética. Ser gay é apenas ser gay.
Creio, aliás, se li bem a entrevista de Adolfo Mesquita Nunes ao Expresso que ele concordaria comigo. Como ele diz, faz o que faz, porque não tem a opção de ser outra pessoa.
Nas minhas vagas resoluções de ano novo, incluí uma coisa chã como usar menos plástico e usar menos coisas em geral, pois, sem querer ser Marie Kondo (nem muito menos Gustavo Santos), vivemos rodeados de inutilidades -- livros que não vamos reler, roupa que só vestimos quando o rei faz anos, sapatos just in case e infinitas coisas sem história nenhuma para contar -- para as quais precisamos de casas cada vez maiores e cada vez mais caras. Sucede mais ou menos o mesmo com as outras coisas intangíveis que procuramos. Filmes, música, séries, livros. Estou decidida a retirar certas coisas da minha dieta e estava num caminho solitário quando o meu marido me diz que também está nessa. Uma coisa tão simples e apeteceu-me ficar casada com ele mais 20 anos. :)