Assim, logo de manhã, entre um gole de leite e uma dentada na torrada, a Madalena e a Teresa concordaram que os rapazes têm mais força e que "protegem as raparigas". Já nem me lembro bem como surgiu esta conversa, mas, uma coisa sei, estava a ser perfeitamente normal até este ponto. Em que a Madalena disse que os rapazes protegem as raparigas e a irmã concordou.
Se nós vivessemos no meio da selva, se fossemos vizinhos da família de "Capitão Fantástico", um argumento destes podia eventualmente colher alguma simpatia no coração desta pobre e velha mãe. Mas no mundo em que vivemos... Tenho a dizer que não só não espero como tenho quase a certeza que a maioria dos rapazes tem tanto medo de ratos como as minhas filhas. Portanto, essa do protegerem as raparigas... é que, sinceramente... Anda esta-aqui a esforçar-se, a dar lições de igualdade de género e vai-se a ver e é isto: "os rapazes protegem as raparigas". Pffff...
Todas as Franciscas de hoje são Quicas e não me parece bem nem mal. Também gosto de Chica (e Chico) e não acho que sejam diminutivos foleiros. Pena tenho que o Chica, ou Xica, não tenha pegado, mas agora as Franciscas são Quicas. Se fosse em Espanha, a Quica era Paca, ou Paquita, destino mais que certo de todas as Franciscas. O caso é que o nome Quica colou-se-lhe. Agora, com os seus quatro anos, entendeu finalmente que Quica não é nome, é petit nom (isto soa bem), e que é, afinal, Francisca. Tarde piou. É Quica em todas as partes. Ou melhor, todas, todas, não. Há quem insista que ela seja Kika, até mesmo Kica. Mas não. A Quica é Quica.
Agir, o músico que os miúdos adoram. Fui tentar saber o que ele pensava sobre esse assunto. A resposta está no Diário de Notícias e no título têm uma ideia: "Não tenho problemas em ser um artista de quem as crianças gostam".
Bem sei que a maioria das pessoas está-se borrifando para os artistas que entrevisto. Eu também era assim até que estas pessoas se impuseram no meu caminho. Hei de ser a única jornalista do planeta que começou a escrever sobre Artes ligeiramente contrariada e a sentir-se culpada. Como podia desperdiçar a sorte que me batia à porta? Acho que fiz bem em abraçar a tal sorte, porque as coisas bonitas nunca fizeram mal a ninguém. A bem da verdade, as coisas bonitas até me salvaram de muitas coisas feias, e, como tenho vindo a perceber, quanto mais coisas interessantes vejo menos me interessam (realmente) as feias. Confuso? É capaz! Mas na minha cabeça é claríssimo.
Isto tudo para dizer que esta semana conheci uma pessoa incrível: Marco Castillo, um dos dois Los Carpinteros. E quem são Los Carpinteros? São um coletivo artístico nascido em Havana em 1992 que tem uma instalação instalada (pleonasmo consciente) nas Carpintarias de São Lázaro, um cento cultural que está a nascer junto ao Martim Moniz.
Esta semana, enquanto Marco Castillo estava a montar a peça fui ter com ele. Estacionei o carro ao pé do hospital de São José e comeceu a descer a rua de São Lázaro. Pelo caminho passei pela pastelaria Copélia e disse a mim própria "olha que engraçado, Lina Santos [eu falo sempre assim comigo], vais entrevistar um cubano e passas pela Copélia". Isto tem piada, porque, fyi, no "Buena Vista Social Club" umas quantas cenas são filmadas nas longas filas da geladaria Coppelia, em Havana. Continuemos...
Eu queria uma entrevista com Marco Castillo, claro. Tanto mais que, sem saber nem imaginar, até já tinha visto a instalação deles no V&A (V&A é como as pessoas "cromas" se referem ao Victoria & Albert, em Londres) e tinha gostado. Mas, continuemos...
Parto sempre para estas coisas com o desejo de escrever a biografia autorizada da pessoa. Se depois correr tudo mal e só tiver duas frases, logo vejo. Acontece que Marco Castillo é um conversador e, por acaso, estava cheio de fome. Então, saímos das carpintarias de São Lázaro (vão lá: rua de São Lázaro, 72) e subimos a rua à procura de uma pastelaria. Onde ficámos? Bingo! Na Copélia. É uma coincidência parva, eu sei, mas vamos acreditar que é cósmica, ok?
Bem, Marco Castillo é absolutamente incrível e não é porque adora café con leche. É porque tem uma cabeça super bem mobilada, que é uma expressão que fica a matar quando se fala de um carpintero. Ele falou sobre a vida dura em Cuba quando o Muro de Berlim caiu, ele falou sobre arte, sobre a nova aproximação a Cuba, mas também de como ninguém algum dia vai dizer que não quer educação para todos. É preciso recuo e maturidade para dizer: nem tudo foi bom, nem tudo é mau. Também falámos de como é preciso ser maduro para manter com vigor uma parceria artística de 27 anos. Essa parte acabou por ficar fora da entrevista, por falta de espaço. Uma hora de conversa não se resume em duas páginas por mais talento e boa vontade que o jornalista tenha. O que me parecia mais importante nesta altura do campeonato, pode ser lido no sítio do costume, o site do DN: "Se vê significado político no nosso trabalho é porque você é um perverso".
Como se não bastasse, a obra que trouxeram a Lisboa (escolhida pela curadora das Carpintarias, Verónica de Mello) é impecável. Vou tentar resumir: um showroom do Ikea que sofre um impacto brutal. Um impacto tão forte que não sabemos se é natural, uma bomba ou, acrescento eu, uma pessoa que chega a casa enfurecida. A mim parece-me impecável que surja aqui e nos lembre essa segurança cínica que temos no mundo dito Ocidental que se tem revelado tantas vezes (quase sempre) o nosso veneno. Mas, garanto, não é preciso entrar por estes caminhos para desfrutar da instalação. Basta lá estar e deixar-se levar pelas sensações. O que for que pensemos está correto.
No dia 14 de fevereiro fez 14 anos que conheci o António. Gostava de agradecer a todos o detalhe de terem enfeitado a cidade de corações para nós. Acho um amor e todo um detalhe da vossa parte. Oferecemos a nós próprios uma ida ao cinema, uma coisa absolutamente extravagante nos dias que correm. O filme, "La La Land", é espetacular e até comemos pipocas.
No intervalo, comentei que tinha estado a ouvir um podcast da BBC incrível - o obituário (é o que é) do estaticista Hans Rosling. Um perfeito desconhecido para mim, e sabia lá o que estava a perder... Nunca tinha ouvido falar dele, nem dos seus números que combatem o preconceito. Já o meu marido... "Claro que sei quem é. Esteve cá na Fundação [Francisco Manuel dos Santos] há uns dois anos. É ótimo!". E, pronto, votos renovados por mais um ano.
Quanto ao Rosling, e para que não lhe perca o rasto, o link da fundação que criou com os filhos: Gap Minder.
A Teresa proibiu-me de postar sobre ela no Facebook, depois de ter sabido por uma amiga que tinha escrito sobre ela. Geralmente, até informo quando partilho alguma coisa, mas nesse dia esqueci-me. Cumpri os desejos com zelo tal que nem me ouviram queixar-me Uma vez que a proibição de falar sobre ela no facebook (e que entendi que devia estender-se ao blogue) foi levantada, gostava de dizer que a rapariga me dá imensa vontade de rir com os seus trajes. Modelos mesmos. Em primeiro lugar, ela é bastante exasperante porque tem opiniões firmes como rochas sobre tudo o que veste. A primeira regra a obedecer é a do vestir sempre um número abaixo do que devia. Frequentemente, "a do meio" parece a Jô Caneças, sempre com roupa demasiado coleante. Por sorte, a juventude joga a seu favor. A parte divertida é que também faz acrescentos. Uma virola nas calças, umas cores inesperadas, uma camisola dentro dos leggings (mata-me!) e, apesar de ficar bastante mal, tenho de reconhecer que é o seu estilo. Estou a assistir ao crescer desta coisa da imaginação e é fascinante. O que é ser imaginativo?
Nem o mundo era mundo se euzinha também não viesse botar faladura sobre o tema. Para dizer umas coisinhas.
1. Nenhum negócio fecha se estiver a correr bem. Se a revista "Cristina" fecha é porque gastava mais dinheiro do que gerava. E as pessoas podem apoiar-se na retórica, podem insistir que estava tudo planeado, mas a verdade é esta: pelo menos uma das partes não estava contente com o que se estava a passar. E é um fracasso com todas as letras, sim, porque, que me lembre, foi a apresentadora Cristina Ferreira que se armou (não há outro verbo) em salvadora da imprensa escrita quando viu a publicação nas bancas. E agora insiste, contando a história que lhe convém (de como sempre esteve planeado deixar de fazer o projeto como sempre o tinha feito para fazer igual em outro sítio e que agora vai ser para o mundo. Treme, Gwyneth Paltrow.
2. Tenho lido críticas aos jornalistas aos jornalistas que, apesar de não terem direito a fazer perguntas após o "momento de imprensa" (seja o que o que isso for) para o qual foram convocados, terem feito notícias sobre Cristina Ferreira.
Ora, lembremos, o 4.º Congresso dos Jornalistas aprovou uma moção para que os repórteres não escrevessem notícias quando as conferências de imprensa não tivessem direito a contraditório. É uma intenção benévola e, em princípio, nada tenho contra ela. Acontece que esbarra na realidade mais depressa do que um mosquito no radiador do carro que vai na A1.
Se todos os jornalistas se tivessem calado sobre o que aconteceu nesse "momento de imprensa" (a expressão dá taaaaanta vontade de rir), eu não saberia que ela se tinha comportado assim, porque não fui convocada. Para o caso em apreço, quero dizer isto: ainda bem que escreveram o que lá se passou e, sobretudo, ainda bem que noticiaram que ela afinal quis fazer um "momento de propaganda" sem direito a perguntas usando o filho como desculpa. Como dizem os ingleses, speaks volume sobre a pessoa em causa e isso parece-me bem ser contado. Na verdade, essa É a notícia do que lá aconteceu. Ainda bem que se soube.
3. As pessoas que nos entretêm merecem espaço e que as conheçamos, mas, enfim, acho que tudo o que a apresentadora das manhãs da TVI tinha para dizer está dito há muito tempo. E, apesar do que ela pensa e da maneira como a imprensa se comporta, ela terá o seu tempo e, com esse mesmo tempo, deixará de ser interessante. Como acontece a todas as divas. Assim sendo, melhor não nos preocuparmos demasiado com o que a apoquenta, porque, na verdade, só a preocupa que critiquem o trabalho que faz. Para o demais, leiam a Vanita.
Nove anos feitos na terça-feira, com direito a reunião de amigos e lanchinho ontem com mais amigos. Já nove anos! Tenho de sempre de começar por dizer que nem acredito que o tempo passou tão depressa. O meu bebé... Mas, também, gosto de dizer isto para que ela saiba: é muito mais giro ser mãe desta menina tão crescida, com tantas opiniões, que sabe ler e que pensa sozinha. Preferia não ter de a mandar 30 vezes para a banheira antes de obter qualquer resultado, mas divertem-me as canções na parte de trás do carro, as coisas que escreve, os seus desenhos, as rimas, citar deixas de séries da Disney, aquelas descobertas incríveis que vai fazendo e que já nem se podem contar num blogue. Sim, também é isso. Esta minha filha é cada vez mais pessoa, mais ela, mais as suas opiniões -- é a melhor notícia e a coisa mais importante a registar sobre o aniversário de 2017.