Nos tempos remotos em que a Madalena aprendeu a ler, início deste ano (mais coisa menos coisa), Montepio foi uma das primeiras palavras que descobriu na rua. Como se já não soubesse o que a casa gasta, quando me perguntou o que era Montepio respondi:
- É um banco. Está com problemas.
Íamos dentro do carro.
Uns segundos depois, a Madalena pergunta: - Que tipo de problemas?
Aí,estatelei-me ao comprido. Como explicar o que nunca foi confirmado a uma criança de 7 anos? Terei dito qualquer coisa como "gastaram mais do que deviam" e atalhei caminho.
Ontem, quando passámos à frente do banco, volta a perguntar:
O primeiro jornal que comprei por iniciativa própria foi o "Independente". Tinha um artigo sobre os pivôs da televisão, assunto que aos 17 anos já me interessava muito. Lembro-me perfeitamente da capa dessa revista. Chamava-se "Talking Heads". Quando folheei aquelas páginas foi como se abrisse perante mim um mundo novo. Eu pegava no jornal semana após semana, lia as coisas do Carlos Quevedo e pensava "Mas que país é este de que ele fala?". Ele e os outros. Nunca mais tive essa sensação com nenhum jornal e comprei-o religiosamente todas as sextas-feiras, mesmo quando o folheava uma vez e outra e já não encontrava nada que achasse que merecia ser lido. Como tudo, o interesse desvaneceu-se, um dia rendi-me ao "Expresso", depois a outros jornais mas mantive guardadas durante anos as revistas do "Independente". Uma delas, com uma reportagem de Laurinda Alves sobre um grupo de pescadores que perdeu a vida num naufrágio em pleno Tejo, foi resgatada, anos depois, quando o "Tarde Demais", de José Nascimento, estreou. O filme era sobre esta história. Portanto, tenho um cantinho bem grande guardado no meu coração para o "Independente".
E é sobre o jornal que vai sair um livro escrito por um amigo e editado pela Matéria Prima. O Filipe (Santos Costa), aquele tipo que escreve lindamente sobre política no "Expresso" aos sábados, viaja até aos anos polémicos do "Indy" (em parceria com a Liliana Valente) numa altura em que o seu diretor é vice-primeiro ministro do País. A prosa chama-se "O Independente - A Máquina de Triturar Políticos" e o lançamento é quinta-feira, às 18.30, na Fnac do Chiado. João Miguel Tavares e Ricardo Araújo Pereira fazem a apresentação, o que também é sempre de realçar porque pode dar-se o caso de darem algum espetáculo.
Ainda da série "coisas giras que fazem os meus amigos", a Catarina Guerreiro, que trabalha no "Sol" e conheci no 24horas (vou sempre escrever o nome do defunto assim: junto e em itálico), também vai lançar um livro. Chama-se "O Fim dos Segredos" (Esfera dos Livros) e fala da Opus Dei e da Maçonaria. Tremam, boas almas! É apresentado no dia 18 de novembro, também na Fnac do Chiado, também às 18.30. Boa escolha, a propósito: a seguir podemos dar um salto à Sephora.
... E outros dois livros que estão no mercado e podiar estar em nossa casa (não achas, querido esposo?)
"A Minha Europa", o novo livro de Maria Filomena Mónica, com fotos do arquivo pessoal (tiradas por António Barreto) e "Lembras-te Disto?", de Pedro Marta Santos e Luís Alegre. Vai-se a ver e pode ser uma desilusão, que isto de cavalgar o vintage e a infância é chão que já deu uvas, mas, bom, uma pessoa deve dar uma chance. A mim, basta que me falem em perneiras, trinaranjus e Cindy Lauper. Também são da Esfera dos Livros. Não porque tenha algum contrato com eles, mas porque me mandam mails e costumo gostar do que editam.
Pedro Passos Coelho tirou-me o feriado de 1 de novembro e no domingo foi S. Pedro que me trocou as voltas. Chuva e andar de casa em casa não combina. Pelo segundo ano consecutivo, falhamos a tradição. Assim é muito difícil...
PS: Inês, mais uma vez. não conseguimos ir a tua casa. Está tudo contra nós.
Porque estas coisas precisam de ser faladas quando ainda há tempo para as resolver, deixo aqui o link para um texto da diretora do "Público", Bárbara Reis, sobre a grande trapalhada à volta dos livros escolares. Além da experiência pessoal relatada e dos surpreendentes factos descritos (16 manuais de educação física?!), gostava de acrescentar o que descobri em setembro: os manuais em que não se escreve são vendidos em conjunto com as fichas, isto é, para termos as fichas temos de comprar o manual. É um completo desperdício de dinheiro e, mesmo que fossemos todos para lá de ricos, um inútil gasto de recursos.