Apenas uma pessoa, UMA, para além de mim mesma, e que não deixou nome (que pena!), acertou no Quem é Quem de ontem. Não estou a exagerar. As crianças não se reconheceram. M. não as reconheceu. Amigos não as reconheceram. Nem o PAI soube dizer qual era qual. Houve outra pessoa que se aproximou, a Vera. "São trigémeas". A ordem certa é esta: Teresa, Madalena, Francisca. Não é que veja grandes diferenças entre elas, é pelas roupas. É isto, reconheço as crianças pelas babygrows. Tremendo!
No 11 de setembro, achei que aquilo não passava de um (trágico) ato isolado. No 11 de março, assustei-me mas era jovem, devia ser insconsciente. Londres é Londres, tudo pode acontecer. Como ninguém entra na Síria nem sabemos realmente o que lá se passa. Charlie Hebdo era um ataque à liberdade de expressão. Custou, mas havia um alvo concreto. E havia sempre, sempre aquela coisa de viver em Lisboa. Lisboa fica em Portugal e Portugal não conta para o totobola. Transtorna, mas ultrapassa-se.
Ontem foi diferente. Podia ser um dos primos do António que vive em paris. Podia uma pessoa qualquer que tivesse ido passar o fim de semana a Paris e que eu conhecesse. Podia ser uma das pessoas que emigrou nos últimos anos. Podemos estar sentados numa esplanada, a rir, a prepararmo-nos para dar um golo num gin tónico e tudo acabar aí.
Não é seguro andar pela Europa, concluí. Um medo a sério que estou a confessar por uma razão simples: esse é o objetivo de quem espalha o terror. Dos terroristas. Não me vou vergar a isso, a sério que não. Não vou viver a olhar para a sombra. Nem vou contaminar a vida das miúdas, impedindo-as de irem para onde quiserem porque tenho medo. Porque tenho.
Mas foquemo-nos no que realmente importa: o que fazer nesta situação? Como é que se vai acabar com esta situação? Qual é a atitude a tomar? Vamos viver num Estado securitário? Achamos que é preciso mais segurança? Queremos deixar essa palavra nas mãos do partido de Marine Le Pen? Eu não quero. Não quero nada que atentem contra as liberdades individuais, nem quero filmes tipo "Homeland". Porque é que os franceses têm de passar por isto tudo duas vezes? O que é preciso fazer para mudar o estado das coisas?
Pessoas que estavam a ir para casa depois de uma semana agitada. Alguém que andou semanas a falar num concerto no Bataclan. Pais que estavam a guardar este fim de semana para brincar com os filhos. Ou para ir ver o 007. As pequenas coisas (interrompidas) não me saem da cabeça. Podíamos ser nós.
A mesma criança que pergunta o que quer dizer digóstico (diagnóstico) e que tenta dobrar toalhas com a minúcia de uma empregada da Zara no dia em que chega a nova coleção, a mesma menina de três anos que sabe que se for "fofinha" lhe faço mais favores, que diz já fazi em vez de "já fiz", que anda na fase de fazer poxões no banho e tem medo de buxas e ratos zigantes, que me chama mãe maluca e marota, chama as irmãs de manenas. Manena sendo o nome que chamamos à Madalena. So lovely.
A falta de sono tira-me o discernimento. Ou enche-me dele, não sei. Avisei que estava intratável. E estive intratável. Em geral, acho que o mundo é maravilhoso. Mas nestes dias encontro muita coisa torta e feita sem cuidado nenhum. Portanto, lancei os cães:
- Aos condutores que estacionam em segunda fila porque o seu tempo é mais importante do que o meu que tenho a Madalena a precisar de antibiótico.
- Por causa do "sistema em baixo" que me obrigou a pagar por inteiro uma consulta incluída no seguro. Estava com paciência: pedi o livro de reclamações. Percebi que não ia fazer diferença, liguei para a seguradora e fiquei a saber que ainda tenho de ser eu mexer-me para reaver o dinheiro que legitimamente me corresponde. Mail de reclamação também já seguiu. Como disse à pessoa que me atendeu: nem tenho palavras para descrever a situação. Bem, quer dizer, roubo e extorsão ocorrem-me.
- Como que me recusei a fazer uma coisa que tinha pedido há uma semana. Dei tempo para ela ser feita em condições e não vou transformar o meu dia numa montanha russa para resolver situações de que não sou responsável. Outro dia, reclamava e fazia. Mas hoje também é um mau dia para mim.
- Finalmente, a cereja em cima do bolo, aquela coisa que me reduziu (e bem) à minha insignificância: esta foto partilhada no Facebook.
Achei que isto era um cartaz de apelo ao consumo, ri-me e tirei a foto. Pensei que era uma campanha de publicidade para oferecermos medicamentos e cuidados de saúde como quem oferece massagens de pedras quentes. Mas é uma campanha da Associação Paralisia Cerebral Lisboa. Um erro horrível. Uma vergonha enorme. Obrigada a quem me chamou a atenção. E parabéns à APCL. Já se sabe quem é que vou ajudar este ano.
- Continuo sem nada para dizer sobre o Governo que morreu nem sobre o Governo que aí vem. Foram tempos interessantes. Agora é hora de andar para a frente.
...E a terceira (a do meio) a sentir-se posta de parte.
Portanto, esta noite deixei-as à vontade com a TV e os gadgets para se consolarem. Para o caso de já se estarem a arrepiar com a vida dissoluta que estas crianças levam, esta foi apenas uma das benesses de estarem murchas. A outra incluiu um descarado: "não queres jantar? podes beber só leite". Não extensível à mais nova, que começou a comer sopa recentemente (pouca, mas ainda assim mais do que há um ano) e não a podemos perder nesta fase.
Acabei ao computador, agarrada aos bastidores do blogue e, depois, ao mesmo tempo, a ouvir os viciantes energúmenos do "Prolongamento". Quem diz a verdade não merece castigo.
Andava mortinha para ter uma barra lateral, há uns tempos que achava que precisava aqui de qualquer coisa e, finalmente, hoje encontrei o que procurava. Pus-me a fazer experiências e mais experiências, às tantas já não podia voltar atrás e... pumba... deu nisto. Só não mudo o cabeçalho (que me liga para sempre à Cláudia, a sua autora) nem as cores, escolhidas pelo Pedro Neves, porque gosto delas assim.
O esposo diz que está "sério", eu dei o meu melhor. Se houver queixas e cenas desagradáveis, aí, entre os milhões e milhões de pessoas que nos seguem aqui e através do Facebook, Twitter e Instagram (cujos links podem encontrar no topo desta página, passe a publicidade), é favor manifestarem-se.