A minha prima Elsa reclamou, depois de ter lido este post sobre a Quica e este outro sobre a Teté. "Não escreves sobre a Madalena?" Escrevo claro, mas a questão é que já escrevo há mais tempo sobre ela e as irmãs precisam de espaço. Além disso, com ela, os assuntos já não são "bebé-querida-baba-estou-louca-de-amor-e-adoro-ser-mãe". São isso também mas há muito mais.
Há uma pessoa a aprender oficialmente. Com metas e objetivos para cumprir. E é muito bonito a gente dizer que que eles vão ao seu ritmo mas não conheço ninguém que queira que o filho vá na última carruagem do comboio. A bem da verdade, os pais que dizem isso, eu incluída, somos bem privilegiados porque os nossos filhos vão em 1.ª classe ou lá perto. Que bom é falar de barriga cheia.
Mas, bom, a rapariga cumpre. Pode não ser a melhor aluna mas cumpre e, a meu ver e com base no que diz a professora, cumpre bem. Não há razão para preocupações. Não? Pelo contrário. Aqui começa a questão. Se temos uma filha esperta podemos permitir que ela faça as coisas para o "suficiente"?
Deve ser das frases que ela mais ouve cá em casa. Se tu tens capacidade para fazer bem como é que te posso deixar fazer assim-assim?
A verdade é esta: deixar andar está muito certo mas olhe-se por onde se olhar só com esforço se veem resultados. Se bastassem as nossas capacidades não faltariam as escolas de zonas J nos melhores lugares dos rankings. E não é isso que vemos.
O que vemos é que pais com mais e melhor escolaridade têm resultados melhores - há muita matéria que é dada pela vida, por assim dizer. Se a matemática fosse apenas fazer trocos os filhos dos feirantes eram os melhores alunos.
Claro que ter um bom resultado num ranking não é tudo. Não é mesmo. O importante é saberem a matéria mas preciso de usar um indicador qualquer e vou partir do princípio que numa escola com melhores notas haverá mais gente a saber mais e não vou fazer diferenças entre os resultados das dez primeiras, pois são pequenos. E vou também partir do princípio que a nota do exame está próxima dos resultados reais. Para o bem e para o mal.
O dilema é este: devo ser calma e envolver-me menos, deixando a vida fazer o seu caminho ou devo insistir no estudo e na necessidade de trabalhar?
Voltemos quase ao princípio: se fosse uma mãe supersegura de que a educação e cultura que forneço são excelentes, não me preocupava. Mas não. Eu acho que devo trabalhar mais com as crianças. Muito mais do que faço. Mas por falta de tempo, de vontade, de criatividade... Às vezes, o esforço é menor do que gostava.
Calma, não estou a defender explicações no primeiro ano ou coisa assim. Defendo equilíbrio, em primeiro lugar, e defendo com muita força que as crianças vejam satisfeitas uma das suas características de ser criança: conseguir fazer coisas. Superarem-se.
É quase outra conversa, mas tem tudo a ver. Precisamos que as crianças se esforcem simplesmente porque se há coisa que elas adoram é excederem-se. É uma fonte de felicidade. Se há coisa boa que tenho aprendido é que é um mito que os miúdos queiram passar um dia inteiro à frente da televisão sem fazer népia. Eles querem aprender a andar de bicicleta, querem passar mais um nível no jogo de computador, ler um livro inteiro, aprender a atar os ténis. Claro que não querem passar uma tarde de domingo a fazer os TPC mas querem sentir orgulho numa redação bem feita.
O valor que pode ter para uma criança saber que aprendeu é também o que me leva a dizer que não se pode simplesmente pôr a palavra lúdico em toda a pedagogia. Aprender, divertindo-se como foi tão falado nos anos 90 e 00, é nada. No pré-escolar, ok, brincar é que se quer. Se aprenderem umas quantas coisas, melhor. Para quê? Para eles saberem que são capazes. Saberem que são capazes dá muita confiança. E todas as pessoas precisam disso. Mas quando se começa a aprender a sério, o lúdico não pode ir à frente de tudo. As crianças precisam de se responsabilizadas e de conhecerem o seu papel na escola. Como é evidente, não estou a advogar o uso da chibata ou da intimidação. Até podem aprender com rimas e puzzles mas parece-me valioso haver consciência do trabalho. Saberem que uma lengalenga é uma ferramenta.
PS: Está a ser uma viagem de autocarro muito chata.
Montes de pessoas meteram-se connosco por estarmos todos com as camisolas do Benfica, incluindo as nossas filhas que as usaram a servir de vestido. O cúmulo foi um estrangeiro que nos pediu uma foto de família. Foi muito divertido estar ali aquele bocadinho. Mostrar a emoção de ganhar um campeonato às crianças e voltar para casa.
Voltar para casa antes da confusão começar, antes de pessoas que usam a mesma camisola começarem a agredir-se. Queriam estragar a festa? Parabéns! Conseguiram. Mais ainda, conseguiram impedir-me de ir festejar o tri para o Marquês com um ano de antecedência. Não perdoo. E, sim, estou a contar com o tri.
PS: Medidas contra agentes de segurança que não se sabem controlar precisam-se.
É a minha filha que mais simpatias reúne à sua volta sem que ela própria tenha noção de como tudo melhora quando ela sorri. Talvez seja dos seus quase cinco anos mas quando digo que o mundo melhora quando ela se ri não estou a inventar. Tem um sorriso franco e traquina. Dispõe bem quem está ao lado dela. A Teresa é dessas pessoas que existe e pronto. Às vezes nem a própria tem noção de como as amigas gostam dela. Desisti de me preocupar quando me diz que esta ou aquela não são amigas delas (teve uma fase assim). Quando chego à escola as amigas dão-lhe a mão e não sinto que ande sozinha. Só agora começou a reparar que existem rapazes na sala. Sempre foi muito mais próxima das meninas. Como é próprio da idade, e felizmente, tem cada vez menos birras. Mas quando as tem são tão épicas como a boa disposição. Escrevo isto num momento em que estamos em paz e faço de conta que na segunda-feira não me zanguei por não querer ir para o banho. Continua a ser cliente vip na accessorize. Agora anda viciada em leques (superútil, sei lá) mas continua a gostar muito da coleção de bandoletes. Aprendeu há pouco s fazer os seus próprios rabos de cavalo. Mãe orgulhosa! Dorme muito bem. Não reclama para se deitar e se for preciso pede para ir para a cama. Come regular e se pudesse éramos nós que lhe dávamos tudo à boca. Já percebe que açúcar faz mal. É capaz de dizer que não come uma bolacha para comer um gelado. Novidade absoluta na nossa casa. Depois de anos sem mostrar qualquer interesse por desenhar, agora passa os dias a fazer bonecos e princesas e a praticar o nome. O treino foi longo e duro mas, por fim, os S saem perfeitos. Estamos com os R.
A madrinha da Quica batizou-a com este petit nom. Achamos que lhe assenta como uma luva e adotámo-lo. Ser mandona é a principal virtude e o principal defeito da nossa filha. Ainda esta noite mostrou de que fibra é feita:
- Mãe, poxo ir para o quarto pais?
- Vou perguntar ao pai para ver o que é que ele acha? (mãe a ganhar tempo)
- Mãe, xou bebé (olhinhos fofos).
Claro que fui obrigada a tirá-la da cama e a levá-la para o nosso quarto, premiando a sua lata monumental e a capacidade de entender conceitos abstratos. Ela sabe bem que a deixamos fazer algumas coisas só por ser bebé.
Expressa-se tão bem, tão bem, usa palavras cheias de nove horas tão bem que só posso ficar orgulhosa.
Um dos melhores momentos dos nossos dias acontece quando chega à escola. À entrada, o senhor C. mete-se sempre com ela. Pergunta-lhe se quer ajuda. Invariavelmente, responde: Num pexijo de ajuda. Vira costas e sobe os degraus danada, a fugir. Quando já se sente em segurança vira-se para trás para se meter com o senhor, como quem diz "já cá estou".
Estamos a começar a desfraldar, processo que não se está a revelar muito simples porque os pais não estão muito empenhados. A nossa grande vitória e a Quica pedir, em algumas (poucas) ocasiões para usar cuecas em vez de fralda.
Está melhor com a comida. Já debica uns pedacinhos de frango e até uns bagos de arroz (hossana nas alturas).
Começa, finalmente, a ter os seus gostos. Se pudesse vivia dentro dos fatos da Disney. Se há pessoa que está amortizar o investimento em vestidos do Frozen, Cinderela e Bela sou eu. Todas as manhãs quando acorda pega no telefone e diz "Pinxeja Sofia, mamã".
A canção preferida, em português ou inglês, continua a ser esta:
A Teresa é uma pessoa de quem gosto muito. Anima uma festa e combina duas qualidades invejáveis: é naturalmente fotogénica e tem bom gosto. Não podemos fazer nada em relação à primeira, exceto, talvez, nunca posarmos ao lado dela numa foto :). Já em relação à segunda, a coisa é simples. Podemos ter turbantes, tê-shirts ou biquínis com aplicações em capulana criadas por ela, a Tê. A coleção spring/summer ficou disponível hoje.
Linchamentos populares? Sou contra. Promover que se bata nas miúdas? Sou contra. Bater-lhes mesmo? Sou contra. Gozá-las? Sou contra. Mas vai uma grande distância entre proteger as pessoas e os seus direitos, respeitá-las e não lhes fazer aquilo que criticamos que façam e deixar passar a situação em branco. Ou acharmos que um vídeo no YouTube é o mesmo que efetivamente dar uma carga de porrada em alguém. Não é. Elas merecem sentir vergonha, merecem um sermão e merecem um castigo exemplar (não estou a falar de casas de correção nem nada disso). A pessoa que me preocupa ali é o rapaz que foi agredido, a única vítima do caso em apreço (elas podem ser vítimas de outras coisas). Lamento imenso que ele tenha de se ver nesta condição. De certeza que preferia esquecer. O resto, pixelem-se caras mas não escondamos que isto acontece.
Ainda hesitei em pôr aqui o vídeo. As miúdas são menores, vão a tempo de se emendar, mas, bom, bebés não são. Já se podem ir responsabilizando pelo que vão fazendo. Portanto, aqui está. Que a situação seja vista para percebermos, de uma vez por todas, que está errado agredirmo-nos. Estas coisas acontecem nas escolas, sempre aconteceram. Acontece que, sorte ou azar, agora gravam-se com facilidade e divulgam-se ainda mais facilmente. Está-se mesmo a ver que há história aqui e não tenho a acrescentar ao bom e velho "que raio andam os pais destas miúdas a fazer". Provavelmente, nada. Provavelmente, são banalíssimas pessoas que até acham que estão a fazer o que devem como pais. E se calhar até estão. Como explicar isto? De onde lhes vem a ideia de que podem comportar-se assim? Quantas vezes atemorizaram este colega ao ponto de ele levar pancada e pouco protestar? Quem é esta matulonazinha que depois ainda lhe vai passar a mão pelo pelo? Que tipo de corretivo se pode aplicar a estas meninas para garantir que entram nos eixos e não voltam a fazer coisas destas? Que a publicidade sirva ao menos para se envergonharem. E, para quem, passa por estas situações, que lhes sirva para aprenderem que mais vale estarem sozinhos do que com "amigos" assim.
Bem sei que é muito chato mudar a maneira como escrevemos ao fim de tantos anos, mas querem fundamentar bem as razões da recusa em adotar o acordo ortográfico? Só para relembrar, Fernando Pessoa ficou furioso porque deixou de poder escrever cysne. Uau, que perda. A propósito, facto continuará a ser facto.
Tenho reservas com algumas regras novas, por exemplo o pára passar a ser para, mas, genericamente falando, acho ótimo poder escrever ótimo, tal e qual como o digo. De tudo, a hifenização é o que me causa mais dúvidas quando escrevo, mas isso não aconteceu por causa do acordo, já acontecia antes. Acho ótimo que se tente aproximar o que se diz do que se escreve. Todo a ortografia devia ser isso, aliás. Em Espanha, por exemplo, o que se escreve está muito perto do que se diz, o que facilita imenso a aprendizagem.
Toda a conversa em torno do acordo já me parece descabida. Mais ainda as pessoas que dizem que não vão escrever segundo as novas regras. Who cares? Façam como quiserem. Na certeza de que um dia, alguém olhará para eles como olho para a minha avó quando ela escreve Tereza ou Brazil ou públicamente. Outros tempos...
Mas, de verdade, o que é mais irritante é ouvir o argumento de que as línguas são organismos vivos, que mudam com os seus falantes. Pois mudam. E é precisamente por isso que o acordo ortográfico é necessário. Porque a língua mudou. Que teria sido deste país se não tivesse havia um rei que decidiu que todos os documentos tinham de ser escritos em português?
Por exemplo, quando estendo a roupa prendo com molas da mesma cor. Quando arrumo os sacos no supermercado, já vai tudo segundo o sítio onde guardo em casa. Há mais alguém assim? PS: primeiro dia de folga=faxina e burocracias.