Tudo bem, está calor, mas ainda bem que é outono
Porque existem peras cozidas com erva doce.
Fui agora à procura da receita e parece que estão em vias de extinção. Por alguma coisa a minha mãe está sempre dizer "há poucas e só nesta altura".
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Porque existem peras cozidas com erva doce.
Fui agora à procura da receita e parece que estão em vias de extinção. Por alguma coisa a minha mãe está sempre dizer "há poucas e só nesta altura".
A melhor coisa de ser jornalista é, toda a gente sabe, estar sempre a ver coisas novas ou antigas mas sob perspetivas diferentes, como um quadro do pintor espanhol Diego Velázquez ser desempacotado. Foi o que aconteceu ao repórter fotográfico Gonçalo Villaverde e a mim na segunda-feira. Fomos para a Gulbenkian entrevistar os comissários da exposição "A História Partilhada. Tesouros dos Palácios Reais de Espanha" e, de repente, grande agitação, o "Cavalo Branco" do Velazquez chega. É disso, e de outros detalhes, que trata o texto que escrevo no DN hoje, a propósito da inaguração desta exposição. As fotografias são do Gonçalo, o rapaz que se vê ali no canto esquerdo. Garanto que a qualidade do trabalho dele nada tem a ver com a minha.
Outros especialistas podem falar sobre a montagem da exposição e a abordagem escolhida, esta-aqui só pode falar sobre o conjunto. E que conjunto. Ele é Ticianos, ele é Tintoretto, ele é Luca Giordano, ele é Caravaggio, ele são Goyas vindo do escritório de Felipe VI, ele são armaduras, bordados e mobiliário... Esmaga! Estou abazurdida com a qualidade do que lá está. O catálogo também já está disponível, coisa mai linda da sua mamã.
Está aberto nesta página para mostrar o quadro de El Greco que veio para Lisboa. Sim, também vem um El Greco, do museu do Prado para a Gulbenkian sem passar pelo Palácio Real de Madrid e no ano em que se comemoram 500 anos da morte do senhor. 500!
Entre a qualidade dos artistas, a relevância histórica e o facto de nada disto ter sido mostrado em Portugal, só se pode lamentar que a exposição seja desmontada daqui a três meses (25 de janeiro).
E porque é trabalho e se eu não o promover ninguém o fará, aproveito para falar de coisinhas muito boas que se andam a passar por Lisboa:
António Dacosta. Retrospetiva no Centro de Arte Moderna (CAM).
Tem de bom ficar a 500 metros da exposição da Gulbenkian, mas para fazer tudo é preciso quase um dia. Duas horas para os "tesouros", mais uma de entretém com a pintura de Dacosta, o homem das duas vidas, dos dois tempos - um até ao início dos anos 50, outro a partir do final dos anos 70. Que os quadros são diferentes como da noite para o dia, são. Que são interessantes, também posso atestar. Que um pintor deixe de pintar e um dia regresse é das coisas mais misteriosas e interessantes que pode acontecer. Só para não parecer que falo grego, é dele o coelho atrasado, em azulejo, que está na estação de metro do Cais de Sodré (quando a greve acabar é ir lá ver e apreciar).
"Edição e Utopia", obras de Júlio Pomar no Atelier-Museu com o seu nome
Pomar deu o empurrão que Dacosta precisava para voltar aos pinceis, quando se cruzam em Paris. Aquelas cabeças-caveiras que uma pessoa vê um vez e nunca mais pode esquecer fizeram mossa na cabeça de Dacosta, tanto quanto na minha (mas na dele para melhor, claro). O giro é que agora voltam a encontrar-se por caminhos diferentes. Um é estrela do CAM, o outro mostra as obras que foram reproduzidas e feitas para serem reproduzidas em mais de 50 anos de trabalho.
Salette Tavares, poesia espacial
É uma filósofa e poeta/artista das palavras. Como se pode ler não sou a única mãe do mundo que quer manter uma comunicação com os filhos. Houve um momento "respirar fundo" quando vi a exposição no CAM: alguém com uma vida-vidinha que, a partir disso, produz arte. Sobre esta não escrevi (só vi) e tenho pena. Encheu-me o coração.
Por detrás das sombras: a coleção de óculos da família Leal no MUDE
Não tem nada a ver com a arte como a gente costuma pensar, ou pensava, mas é de ver, pois claro. Uma pessoa depara-se com centenas de óculos juntos e percebe o quanto tudo mudou para que tudo ficasse igual. Montes de desenhos dos anos 60 mantém-se tão atuais como nessa altura. Uma diferença: os materiais mudaram imenso. Alguém, um dia, vai poder escrever isso. Como o nosso consumo desenfreado de coisas que não precisamos produziu mais conhecimento e ciência do que nunca antes. Melhores tecidos, melhores acetatos de óculos, melhores vernizes, melhor maquilhagem, melhor louça de cozinha. Não tens cura para a SIDA e morre-se de cancro, mas há fotodepilação. Se calhar já estou a viajar e o André, dona da André Ópticas, não merece. É preciso lá ir e ver como 300 anos parecem tão longe e tão perto.
Tanto blogue a dar dicas sobre culinária e "chico-espertices domésticas" e a mim três-pessoas-três perguntaram-me esta tarde o que é que a pediatra tinha recomendado contra a pediculose (através deste link é possível descobrir que não estou a falar de calos ou outra doença dos pés). Como uma pessoa não pode deixar os amigos na obscuridade, aqui vai o que ela nos disse, e depois não me venham dizer que não é nada de especial.
Prevenção em três passos
- Usar um champô que asfixie os mother fuckers (pardon my french). Recomendou-nos o Limov mas disse logo que há outros (de parafina). Pessoalmente, sempre fui cliente da Stop Piolhos mas acho este nome muito mais giro e profissional e sou menina para experimentar. Sou muito sensível à publicidade.
- Borrifar a bandolete e/ou elásticos de cabelo com um spray ou loção anti-parasitas. Andar com o cabelo preso, sobretudo nesta altura (a da praga) também ajuda.
- Repetir 15 dias depois.
Tratamento
- Champô da praxe.
- Carradas de amaciador, pente a escorregar pelos cabelos e secador. Diz que os gajos odeiam secador.
PS: Disseram-me que usar perfume ajuda. Alguém sabe alguma coisa disto?
PS2: Já me estou a coçar...
Sou uma pessoa doente, é possível. Não acho que a Renée Zelwegger esteja pior. Pelo contrário. E até a consegui reconhecer nesta fotografia.
No The Guardian, como é habitual, um artigo sobre isto de uma mulher nunca estar bem. "Por muito perturbador que por vezes seja ver uma figura pública transformar-se ante os nossos olhos, é ainda mais perturbador ver como corremos sem esforço a dizer qualquer coisa sobre essa transformação".
PS: Do mundo dos famosos e hollywoodescos veio ainda a notícia de que morreu um dos maiores: Oscar de La Renta. Uma linha de silêncio e um texto que se lê sem respirar.
Chamam-me Nike Free Run 5.0 Running Shoes. Há em outras cores, mas estas são muito fofinhas.
Acho que podiam fazer parte da nossa família.
A gente vem aqui, fala das coisinhas de todos os dias, preocupa-se com ninharias e nem se lembra da vida boa que tem. Está certo ser assim, é bom sinal. Quer dizer que podemos. Mas depois levamos uns murros no estômago com histórias reais -- uma menina que morre a salvar os irmãos. Não há nada a acrescentar, nem era preciso fazer menção, mas uma pessoa não pode deixar de pensar na crueldade de certos acontecimentos, em como se tem de fazer sempre a coisa certa, mesmo quando as estatísticas jogam contra. Será mesmo que um pobre que faça tudo bem tem menos hipóteses do que um rico que faça tudo mal? Não é contestar o estudo, mas pôr em causa as conclusões. Se isto fosse mesmo assim todos os pobres seriam ladões e todos os ricos seriam, finalmente, donos de empresas. E, por sorte, nem uma coisa nem outra acontecem. Pode haver pouca mobilidade social, que há, mas sempre vai havendo. Ou então estou a pôr as lentes do otimismo...
Aproxima-se o Pão por Deus, a festividade nacional mais importante do ano depois do Natal e antes da Páscoa. Pelo menos para mim, mesmo sabendo que a Ressurreição não chega aos calcanhares de nenhum outro evento religioso. Eu sei, eu sei, mas o convívio "pão por deus, pão por deus, saco cheio vamos lá com deus" não tem igual.
Ora, desde que o Passos Coelho fez o favor de nos acabar com o feriado de 1 de novembro, há um ano, coloca-se a questão: quando celebrar o Pão por Deus? Tratando-se de uma festa pagã, apesar de se chamar "por Deus", não precisa de seguir as regras que foram definidas para a celebração do Dia de todos os Santos, isto é, comemorar-se no domingo a seguir -- dia 2 de novembro, este ano. Há um ano, como era tudo novo, puseram-se papéis e a coisa ficou resolvida, mas este ano, sendo um sábado, muita gente defende que se faça mesmo dia.
Cá por mim, preferia que fosse no domingo. Razão prática: acompanhava a celebração religiosa e não se falava mais nisso. Acho que faz sentido, porque daqui a 20 anos, se não há regra, vamos passar a celebrar quando calha, que é a melhor maneira de acabar com uma tradição.
Veja-se bem este cúmulo: um costume que vem de 1756 ser vilipendiado por um tipo de Vila Real, que vive em Massamá e nem deve ter ideia do que é o Pão por Deus. Nunca te perdoarei, Passos Coelho.
Depois há a verdadeira razão por que preferia que fosse no domingo. A egoísta. Lamento, mas tenho de vir defender a minha dama. Se for no sábado não podemos mesmo ir, se não for no domingo, alguma coisa se há de arranjar.
Mas, pronto, acho que não vou ter sorte nehuma... Este ano fica tudo em branco, e as roupas novas que comprei para o dia vão ficar para outras comemorações.