Para as pessoas como nós, portugueses, que vivemos num país com este nome e estas fronteiras há quase 900 anos, que temos uma só língua (desculpem-me os que falam mirandês), que temos um poeta que até disse que ela é a nossa pátria e que somos república há mais de 100 anos, é quase impossível compreender para que serve um rei. Republicanos todos, e já. Li muito disso hoje. E eu também acho que a República é evolução e o caminho certo para quem defende a igualdade. Mas também é preciso tentar entender os outros. Para que serve um rei? Por que razão eles resistem em tantos países da Europa? Será porque funcionam como símbolo de coesão de um Estado ou será que todos os suecos, noruegueses e dinamarqueses são malucos?
Além disso, se não forem os reis e princesas da Europa a mostrarem os filhos na Hola que bebés fofos é que a malta vai ver? E quando uma pessoa tem um casamento e não sabe como é que vai vestir em quem é que se vai inspirar? Na Luciana Abreu? Na Rita Pereira? Não pode ser. Tem de haver realeza, desculpem-me a franqueza. Tem de haver uma Letizia, tem de haver um Charlotte Casiraghi (realeza de segunda, eu sei, mas realeza), tem de haver uma Victória da Suécia, que lhe dá para anorexia, tem de haver uma Mette-Marit, de plebeia mãe solteira a rainha para que o mundo pule e avance.
Portanto, ontem foi um dos dias de trabalho mais emocionantes do ano. De repente, levantamos os olhos para a televisão e está lá -- Ultima hora: Rei Juan Carlos abdica. Coisas destas é que me fazem gostar de ser jornalista. Estar perante uma informação que muda o curso da história. Eis o que se passa, queridas filhas: um rei, o rei de Espanha, anunciou que vai embora. Deixa o cargo, 39 anos depois de Franco ter dito que ele era o seu sucessor. É um tipo que nunca foi eleito, não senhor. E que foi escolhido por um ditador. Mas é também um tipo que conquistou o respeito porque um dia, 23 de fevereiro de 1981, houve uma tentativa de golpe de Estado e pôs ordem na casa (e o Adolfo Suárez também ajudou qualquer coisa).
Letizia did it: plebeia dos subúrbios de Madrid, neta de taxista, pivô da TVE, princesa, mãe da futura rainha de Espanha e, em breve, rainha. (Estou que nem posso)
A Madalena passou a tarde a brincar com a yorkshire de uma das convidadas da festa de anos da Alice (um ano já, by the way). A parte preferida era puxar a trela da cadelinha. Depois desta conversa, porque sei que esta ideia já lhe anda na cabeça há uns tempos e porque conheço a nossa filha, já sabia o que ia acontecer: mais tarde ou mais cedo, ia pedir-me um cachorro. Pois nem foi preciso sair do jardim para me chamasse para um segredinho. "Mãe, eu quero ter um cão". Dito assim baixinho como quem sabe que está a pedir um Porshe. "A nossa casa é pequena e não temos jardim", dissemos nós. "Arranjamos uma maior", respondeu ela. Antevejo-lhe futuro como dirigente do BE. Do BE ou do BES, não sei bem. Ou no Direito. Porque argumentos não lhe faltam. "Podemos levar para casa da avó e depois fico com ele ao fim de semana" e a derradeira cartada: "Sabem porque é que tenho um cão imaginário? Para vocês verem como trato bem dele."