Não é que alguém me tenha encomendado o sermão, mas eu acho que estas coisas são boas para recordar. As minhas exposições favoritas deste ano (algumas ainda em exibição):
(Procissão do Corpo de Cristo de Amarante, Amadeo)
1. "Sob o Signo de Amadeo - Um século de arte", no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian. É, sem dúvida, uma das minhas preferidas deste ano. Primeiro porque faz uma viagem pelo que foi a arte nos últimos 100 anos deixando bem clara uma relação entre política, economia e arte, depois porque mostra em grande todo o Amadeo Souza-Cardoso que o CAM tem, e que é muito. O que mais gostei foi que mostrasse novas facetas de um pintor que, por ser português, por ser de Manhufe, por ter morrido jovem e por durante muito tempo ter estado escondido, nunca aparece entre os maiores da pintura moderna embora o seu trabalho, tão à par do que de mais vanguardista se fazia, o justificasse. Apaixonei-me por Amadeo Souza-Cardoso. Acho que há coisas piores (e, graças a ele, mantive interessantes conversas com o otorrino das minhas crianças). Ainda temos até dia 19 de janeiro para a (re)ver.
(D. João V com a batalha de Matapão em fundo)
2. "Encomenda Prodigiosa. Da Sé Patriarcal à Capela de S. João Baptista", no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) e Museu de S. Roque. Só não vai para primeiro lugar porque já não se pode ver em todo o seu esplendor (fechou a 20 de outubro), mas merece total destaque. Sempre tive um fraquinho pelo D. João V (uma pessoa não pode crescer a olhar para o Convento de Mafra e não pensar nele). Com esta exposição ficou claro que ele não era apenas um tolo gastador, mas um homem político que pretendia afirmar-se pela paz, pela diplomacia, pelo conhecimento Quem nos dera ter mais gastadores como este. E quando uma tragédia nos assolasse fossemos capazes, como foi a geração que sobreviveu ao terramoto de 1755, ser capaz de rapidamente erguer uma cidade.
(Foto de Helena Almeida) 3. Helena Almeida, no BES Arte e Finança (Marquês de Pombal). Quando fui ver a exposição número 4, o Delfim Sardo (uma vénia para um dos nossos melhores curadores) disse-me "ainda não foi ver a Helena Almeida? É só atravessar a rua!". Ele parecia genuinamente surpreendido por ainda não me ter dado ao trabalho de ir ver. Na verdade, e apesar da Helena Almeida ter ganho o BES Photo, nunca me tinha apercebido verdadeiramente da existência dela, até No dia seguinte, bem mandada e surpreendido com o ar de espanto dele, fui ver e é simplesmente incrível. A começar pelo nome: "Andar, Abraçar". Porquê? Não sei. Não aparecem caras, não há explicações, mas, de alguma forma, o que se vê nas imagens passa emoção. A forma das pernas, a forma como se enlaçam são, em si, uma história. (Passei lá no outro dia e ainda dá para ver).
(Uma das pedras pintadas de Fernando Lanhas)
4. "Caveiras, Casas, Pedras e uma Figueira" - Desenhos de Álvaro Siza Vieira, Fernando Lanhas, Noronha da Costa e Júlio Pomar no Atelier Museu Júlio Pomar. É linda. E tão bem montada que quando estava a escrever quase me apeteceu escrever que o grande artista ali é o Delfim Sardo (já disse que gosto do trabalho dele, não disse?). Pela maneira como conjugou as coisas. Há aquelas pessoas que com nada se vestem, ele com pouco faz uma exposição espantosa. As minhas preferidas: as pedras de Fernando Lanhas. A outra boa razão para lá ir é apoiar um museu novo (abriu este ano) que pretende aprofundar os conhecimentos sobre um pintor sem esperar que ele morra ou que fique gravemente doente para o fazer.
5. Joana Vasconcelos no Palácio Nacional da Ajuda Talvez não seja a exposição mais espectacular. Muitas daquelas peças já tinham sido vistas no Museu Berardo. Mas a combinação palácio antigo+peças modernas e o facto da artista ser tão orgulhosa da sua obra e tão pouco medrosa fizeram daquela exposição um momentaço da vida portuguesa em 2013. Odiei algumas peças (aquela Perruqueira concebida para a sala Maria Antonieta de Versalhes é uma coisa que me enoja um bocado) e alguns "móveis" usados para expor as peças. Aquele suporte da Vespa, por exemplo, que coisa mais medonha! Mas a Vespa em si... Tirou-me a respiração. Porquê? Não sei. Mas tirou.
Só não trago para aqui "Rubens, Brueghel, Lorrain, A Paisagem nórdica no Prado", tão imponente e espectacular, porque ainda temos até março para a ver e, por outro lado, porque não é feita com a material nacional. Se vale a pena? Cada cêntimo!