É normal os pais zangarem-se com os filhos. Ralharem-lhes. Serem até um pouco injustos quando querem que eles andem à velocidade dos adultos sendo eles apenas crianças. Às vezes, muitas (se calhar demasiadas), damo-los por garantidos como se tivessem estado sempre lá e por lá fossem continuar para sempre. Não estão e podem não estar, como a vida, tão cruelmente, faz questão de nos lembrar.
Estava a ler este post do Umbigo das Arábias e foi quando percebi que as minhas filhas nem sabem a sorte que tem. Animais não é a colher de chá da mãe delas. Não sou esse tipo de pessoas querida que deixaria um cão ressonar aos seus pés na cama. Jamais teria um gato. Dispenso peixes e se dependesse de mim, cresceriam a pensar que os frangos nascem e crescem já sem penas, nas prateleiras do supermercado. Isto, porém, não me impede de achar que as minhas filhas são umas felizardas por poderem ter o seu próprio cão, darem milho às galinhas e fruta ao porco. Ou acordarem com o galo a cantar e irem regularmente ver como andam as ovelhas da bisavó (no próximo ano a ver se levamos o Afonso connosco).
E, pronto, já está: os nossos amigos deram o nó e festejaram os primeiros 365 dias de vida das filhas. Foi lindo, romântico e sentido. Passou a voar, como acontece com todos os dias bons da nossa vida. A noiva ia linda e, contrariando os meus princípios acabei por tirar os sapatos para dançar (já não me estava a aguentar nas canetas).
Quanto à choradeira, já posso confessar, começou logo na cadeira da maquilhagem, e não foi por ter conseguido comparecer, antes da cerimónia. Comoveu-me pensar que iam casar-se duas pessoas que gosto e com quem tenho estado muito nos últimos anos, do Dantas para o Tavares, sempre contentes que é o que importa nesta vida. Depois, foi a entrada da noiva, com as duas filhas ao colo. O poema do noivo. A canção da madrinha. Foi precisa muita concentração e aplicar o truque da Mariana do Rosa, Minha Irmã Rosa (cerrar os punhos e abrir muito os olhos) para não acabar como uma madalena arrependida.
Adenda: Esqueci-me de um pormenor fundamental. O casório foi num barco e fiquei rendida a Lisboa vista do Tejo. O pôr do sol na zona da Expo onde o rio é mais largo, a Torre de Belém como se vê nos postais... Lindo!
Se tudo correr como previsto, quando este post ficar acessível ao mundo, estaremos a ouvir uma música linda, dentro de um barco, numa dupla celebração: o primeiro aniversário de duas meninas muito esperadas e o casamento dos pais. Estou a prever muita choradeira...
A manhã de ontem foi difícil, pensava eu. A Madalena acordou mais cedo do que é costume, a Teresa mais tarde. A mais velha não queria vestir-se, a mais nova não queria dormir.
Decidiram chorar as duas ao mesmo tempo.
Quando cheguei à garagem, a porta do monta-autos não abria e a Teresa decidiu chorar a plenos pulmões enquanto a irmã cantava o "Atirei o Pau ao Gato" aos gritos.
Foi esgotante. Ontem pensei coisas piores mas nada como a distância de umas meras 16 ou 17 horas para ganharmos sensatez.
Isso e acordar às 04.00 e estar a pé desde então.
Dei de comer e adormeci uma (embalada pela entrevista de Manuel Luís Goucha a Carlos Cruz no TVI24) e acordou a outra. Recorri a todos os truques: 1) festinhas e aconchego 2) história 3) mudar fralda 4) dar leite.
Nada!
Fui vencida pelo cansaço e neste momento a Madalena, fresca como uma alface (e com a barriga cheia), brinca. Já fez puzzles, já viu desenhos animados, já esteve a fazer desenhos, já andou aos saltos no sofá.
Vou exibir umas magníficas olheiras no casamento desta tarde. É lamentável. E o mais certo é não conseguir ir à maquilhagem (outra vez!). Será que não consigo nunca despachar-me como planeio?
Vá-se lá saber porquê, esta vossa mãe tem paixão pela América Latina. Eu quero visitar todos os países abaixo dos Estados Unidos, incluindo Ciudad Juarez, apesar de não vir bem recomendada nos guias. Mas se por um desses estranhos acasos fosse obrigada a escolher por onde queria começar, experimentava a capital da Argentina. Há anos e anos que tenho fascínio por Buenos Aires. E porquê? Não sei. Pode ser porque é um pouco decadente e com uma ponta de arrogância, que é o que dá sempre graça a qualquer sítio. Quero comer empanadas de carne, alfajores, churrasco, andar pelas livrarias, conhecer psicólogos, assistir a um Boca-River Plate, beber Fernet com cola e, se puder, ir ver um espectáculo de Les Luthiers. E tango, vá.
Quando me perguntam como é a Teresa digo sempre que ela é muito sossegada e que, por comparação, a Madalena era o demo em forma de recém-nascido. É uma injustiça, na verdade, e antes que torne numa dessas odiosas mães cujos bebés são sempre santos, é preciso que se diga que não era a mais velha que era inquieta, a mais nova é que é muito calma. A Madalena foi um daqueles bebés que vem descrito nos livros, totalmente "normal" - nem demasiado agitada nem demasiado tranquila. Com ela, até os surtos de crescimento bateram certo. Cerca dos 15 dias, cerca de um mês, cerca dos dois. A Teresa, em contrapartida, faz parte daqueles meros 5% que fazem intervalos grandes entre refeições (o habitual é comerem seis, sete vezes por dia, o que dá intervalos de três ou quatro horas). E tem a sorte de ser uma número 2. Estamos muito menos stressados.