Se não houvesse mais razões, que há, eu gostava de agradecer a todas as feministas atrás de mim que permitiram que hoje uma menina possa tranquilamente pedir carrinhos, ver wrestling, conduzir pequenos carros eléctricos, jogar à bola, em suma, fazer tudo o que se poderia associar a um rapaz enquanto os meninos continuam presos a coisas parvas como não ser adequado ver as 'Winx', não poderem brincar às fadas ou pintar as unhas. (Sim, eu sei que isto não é assim tão simples).
Não muito, mas o suficiente para se irem os caracóis e ficarem umas ondas, aliás, os chamados 'jeitos' e, basicamente, ficar ainda pior do que antes. Donde, pela lógica, agradeço e re-agradeço os conselhos, ou melhor, o conselho! Já percebi: é tudo uma questão de humidade. Vou experimentar. E é já amanhã!
Já percebi, já entendi, isto é um inferno e vai ser sempre um inferno.
A não ser, claro, que para presente de segundo aniversário lhe ofereça uma 'progressiva brasileira'. Será de mais?
Note-se, os cabelos encaracolados e ondulados (como é o caso) um encanto.
Aqueles 15 minutos antes de ir dormir em que tem o cabelo completamente seco - penteado com os dedos, com os cachinhos alinhados e arrumados, superbrilhantes e macios, naquele maravilhoso tom cor de mel que ela tem - são espectaculares. Ainda por cima, estive ali um montão de tempo e, no entanto, parece que ela saiu da banheira, abanou a cabeça e, voilá, caracóis ao alto. Um mimo, a sério! Exactamente como acontece com todas as miúdas com cabelos encaracolados. Se cuidada, não há moldura mais bonita para a cara. O cabelo liso, vulgo 'lambido por língua de vaca' não tem um quarto da graça.
Mas depois a rapariga deita-se e quando acorda de um lado está liso e do outro tem assim uma espécie carapinha de velha. E passa assim o dia. Porque, digam-me, o que é que uma pessoa faz com 'aquilo'? Volta a metê-la na banheira? Usa gel? Cera? Um gorro?
Para descrever o que aconteceu hoje de manhã quando me despedi do papá e da Manena à porta de casa, teria de ter
1) uma máquina fotógrafica que tivesse captado aquele segundo da nossa despedida
ou
2) um talento absolutamente extraordinário, ao nível de um Nobel, para escrever.
Tudo o que possa dizer fica aquém da realidade e do que senti.
Facto: O papá veio despedir-se de mim com um beijinho.
Facto: A Madalena, com o seu gorro enfiado cabeça abaixo, estava já ao lado do elevador.
Facto: Quando viu o beijinhos do pai voltou atrás.
Facto: Esticou o pescocinho, com aquele gorro tão querido na cabeça, e fechou a boca como quem vai dar um beijinho.
Eu vi amor naquele gesto e no olhar dela.
E o que adorava descrever é o que se sente naquele nanosegundo em que uma criança - a nossa - tem uma reacção tão adulta, que sintetiza tudo o que tem aprendido ao longo destes quase dois anos de vida: as palavras, os sentimentos, a representação. A sério, eu vi amor nos olhos dela.