Esta tarde (e durante) e durante toda a semana que passou sempre que a Mini parecia mais feliz e divertida, gritava a plenos pulmões "papá", "papá", "papá", assim muito bem articuladinho, como puderam comprovar metade da minha família e toda a gente que andava a passear pela Ericeira esta tarde.
Pelo contrário, sempre que qualquer coisa lhe corre mal, género ficar demasiado tempo no tapete sem ter um par de olhos a olhar para ela, então gosta de dizer "mamá", "mamá". Tal qual como no dia em que um Jack Russel Terrier lhe deu uma lambidela na boca.
Batata, cenoura, abóbora, alho francês, couve-flor, espinafres, alface verde e alface roxa, carne de peru, de borrego e de frango. Iorgurtes naturais com leite de transição, iogurtes de fruta com leite de transição, banana, pera, meloa, melão, manga, papaia, alperce, manga, pêssego, leite da mãe, leite em pó, boião de fruta...
Fazer massagens na gengiva inferior da Mini tornou-se no novo passatempo cá de casa. Bem, era, até ter levado uma "repreensão" da Augusta. "D. Lina, não esteja sempre a fazer isso. Deixe a natureza fazer o seu trabalho".E o que eu mais adoro na vida é quando ela me faz estes reparos visando o bem da minha própria filha. Também já tivemos o momento "D. Lina, essa parte do alho francês não é boa para as crianças" e o "a primeira coisa que se faz depois dos bebés comerem é lavar o biberão" e só lhe posso agradecer por estas coisas. E não estou a ser irónica. É que gosto mesmo.
Bom, querida Mini, isto foi muito simples. Tu tinhas acabado de comer a sopa e, isto parece obra do destino, pareceu-me ver uma coisa qualquer na tua gengiva superior e fui lá com o dedo fazer uma massagem. Nada, nem sinal de dente. Mas já que andava ali com o indicador aproveitei para fazer o mesmo na gengiva de baixo. E, tcharã, lá estava ele. Ele, quer dizer, uma lasquinha minúscula que arranha que se farta. Nem sei como é que consegues viver assim. Mas, tirando uma ou outra birra ocasional (nada de novo por estas bandas!), não há nada a registar.
Sim, é isso mesmo: a Mini, a nossa pequenina que ainda ontem nasceu, tem um dente a nascer. Está na fila de baixo e é ainda é só uma coisa que arranha, mas está lá.
O novo brinquedo-fétiche da Mini tem uma textura diferente da maioria dos brinquedos e faz barulho. É branco e vermelho - as cores que convêm à filha de um bom chefe de família - e as intruções são muito simples: é só dobrar em várias partes e dar um nó. O que é?
UM SACO DE PLÁSTICO
(Foram 15 minutos muito bem passados. E toda a gente sabe que isso é uma eternidade em baby time)
Periodicamente chega à minha caixa do correio o mail mais irritante de todos os mails irritantes (incluindo aqueles de fazer corrente que me deixam sempre com a sensação que sou uma cabra do pior quando não reenvio, que é quase nunca). Esse mail é aquele que diz que nós, gente que nasceu antes de 1986, temos uma sorte do caraças porque na nossa altura podíamos subir às árvores, descer colinas em carrinhos de rolamentos, os nossos paizinhos não nos iam buscar à escola e nem era preciso, porque nós íamos a pé. Só que, pelo menos para mim, não foi bem assim:
Um, eu nem na escola primária fui a pé para a escola. Segundo, aos 10 anos andava 45 minutos de autocarro para a escola e outros tantos no regresso. Quem me dera ter tido pais a levarem-me e a trazerem-me. Pelo menos não teria perdido horas de vida sentada na paragem da Caixa Geral de Depósitos de Sintra à espera do autocarro das 19h20, porque tinha perdido o das 18h20 (é um trauma que tenho, desculpem lá!).
Segundo, eu sei que isto até pode parecer chocante para alguns, mas eu nunca gostei muito de andar a brincar na rua e talvez isso também aconteça com muitos meninos de hoje. Não saem porque não querem, ponto. Também nunca andei de carrinho de rolamentos, nem me falta me fez. Aliás, a simples ideia de usar qualquer coisa sem travões arrepia-me. Ainda bem que já ninguém faz isto ou teria reconsiderado a ideia de te ter, Madalena.
Também não me venham com essa de que antes não havia tanta segurança e sobrevivemos na mesma. Nós sim, e os outros, os que não sobreviveram para contar? Aliás, acidentes é que coisa que não faltava. Só eu, quer era uma panhonha de primeira, parti a cabeça cinco vezes. Cinco! Se fosse hoje vinha a segurança social e retirava-me aos meus pais.
Finalmente, detesto quando dizem que estávamos incontactáveis e ninguém se importava. Não só não estávamos, havia sempre alguém a controlar-nos (nem que fosse uma quinquagésima prima de uma tia), como os telemóveis tornaram a nossa vida muito mais fácil. Odeio essa conversa do "crianças com telemóvel?". De uma vez por todas, aquilo é um electrodoméstico e tudo depende do uso que dele façamos.
Normalmente esta linda prosa termina com um "estamos a ficar velhos, mas a nossa infância foi feliz". Foi, mas mal sabem eles que o que realmente me faz sentir cota é que quando comecei a receber estes mails eram dirigidos apenas a pessoas nascidas antes de 1980. Oh pá, obrigadinha. A única coisa que me consola é pensar que, apesar de me lembrar de discos de vinil e do Michael Jackson preto, também só me lembro da versão dos Westlife do "Uptown Girl".
Regras cá de casa para uma pessoa com sete meses menos uma semana:
- Não se podem pôr comandos na boca. Nem telemóveis.
- Só se dorme na cama dos pais ao fim-de-semana depois do pequeno-almoço.
- Depois do jantar não se brinca. É hora de ir dormir.
- Primeiro janta-se, depois toma-se banho (sim, já sei que isto causa arrepios a muita gente, mas depois falamos nisso, tá?!)
- Só se brinca com um boneco de cada vez.
- Quando se faz birra ao almoço não se come banana (a não ser que a sopa esteja uma porcaria).
Há mais, mas aqui a mamã não se lembra, agora de repente.
Ao pé de mim Goebbels é apenas um nazi simpático. Mas tem de ser. E mesmo assim estou sempre a quebrar as regras, porque o mais difícil do mundo, pelo menos por estes lados, é manter uma rotina.