Pronto, não vale a pena fingir. Estou mesmo feliz por ser mãe da Mini-Madalena. Na segunda-feira, na rua, quando fomos à farmácia e passámos pelo café, foi o máximo. Não havia quem não quisesse meter-se com ela, vê-la, destapá-la. "Ai, é tão pequenina", "quantos dias tem?", "que gira" foi o mais ouvi. Literalmente, as pessoas largaram tudo o que estavam a fazer para a ver. E eu ali ao lado: "sim, sim, sou eu a mãe". Que máximo!
O doutor Brazelton tem muita razão. Diz ele que os pais vivem a gravidez imaginando dois tipos de bebé: um perfeito e outro doente e problemático. Finalmente, quando a criança nasce confrontam-se com o baby exactamente como ele é. Não é perfeito, mas também não é um algoz. Ou como diria a tua pediatra, Madalena: "Os bebés são assim. Choram". Uma mensagem altamente reconfortante num momento em que todas as pessoas com quem falava me diziam que os seus bebés eram perfeitos: óptimos para comer, tomar banho e mudar a fralda ao passo que tu choravas por tudo e por nada.
Afinal, a nossa memória é que é bem curta, a natureza está muito bem feita e cada bebé é um bebé. Da mesma maneira que já quase não me lembro de como me angustiava que acordasses de duas em duas horas e demorasses uma delas a comer ou de como já acho que foi lá muito atrás a época em que esperneavas e gritavas por não querer tomar banho só porque agora estás tranquila e até abres os braços. Continuas a chorar, claro. Mas a mãe aprendeu é que é bom que chores.
É graças ao choro que, por exemplo, consigo perceber quando tens cólicas. Demorei a entender isto. Como era possível que estivesses feliz e contente enquanto estavas a comer, ao colo, e desatar num berreiro quando te deitava para mudar a fralda? Nada mais simples para um bebé: estar ao colinho alivia a dor.
Cheguei a achar que estavas viciada em andar ao colo. E quando já me dispunha a aceitar a minha sorte, apoiada na ideia de que não estão descritos casos de miúdos de quatro anos que só dormem ao colo, o papá começou a falar em cólicas, demos-te um remédio e a noite seguinte foi o céu.
Ontem levei a Madalena a pesar-se e é mais um daqueles momentos milestone. Ultrapassámos a barreira dos três quilos. Claro que isto para o comum dos mortais é nada, mas para mim significa que, a partir de agora, a Madalena já não precisa de comer de três em três horas sem falta. Ela decide.
Na sexta-feira a Madalena saiu à rua pela primeira vez. Claro que ela já tinha saído à rua outras vezes, mas era sempre com um objectivo qualquer. Na sexta não. Saiu à rua só porque sim, para passear, apanhar ar, ver o sol.
Acho que gostou, porque passou o tempo a dormir e a fazer carinhas (a Mini-M. não faz caretas, desculpem lá!), mas não chorou, o que, nos tempos que correm, é um óptimo sinal. Talvez tenha tido em consideração o esforço que os pais fizeram para a levar de casa ao Jardim da Parada, um voltinha de escassos 500 metros que mais parecia uma excursão a uma paragem longíqua. Digamos que se eu achava o dá de comer-põe a arrotar-muda a fralda-adormece cansativo, sair à rua pode ser muito mais. Ele é a roupinha (não a podemos levar de qualquer maneira, não é? Sabe-se lá quem pode aparecer e querer espreitar por baixo da manta), ele é a mochila com os extras, ele é a chupeta, ele é a manta, mais o ovinho, mais como aquilo se fecha, e depois o carro e como é que aquilo se fecha... Uffff!!! Há missões da ONU que mobilizam menos meios.
Quando tiveres 15 anos e te queixares de não poder andar de rabo de cavalo porque te achas parecida com o Rato Mickey, lembra-te deste post e de como a mamã te disse mil vezes para não brincares a puxar as orelhas.
Já estávamos tão habituados a sair de casa, fazer a estrada do Lux, estacionar no -2, apanhar o elevador até ao zero, apanhar o outro elevador até ao 2, abrir a porta do berçário, ver os pais felizes com os filhos que acabam de nascer, tocar à campaínha, entrar nos cuidados especiais a recém-nascidos, desinfectar as mãos e ver a Madalena na incubadora que até ficámos atordoados quando nos disseram que a podíamos trazer para casa.
Foi na sexta-feira e, confesso, senti uma confusão de sentimentos. Alegria e tristeza ao mesmo tempo. Estas pessoas - médicas e médicos, enfermeiras e auxiliares - foram incríveis com a nossa filha. Além dos remédios, curaram-na com carinho e isso é qualquer coisa que nunca poderemos agradecer ou esquecer (agora percebo plenamente as pessoas que falam com gratidão eterna dos médicos que as tratam). E, no entanto, estas pessoas tão importantes vão acabar por ser apenas alguém que está numa foto. A Madalena não se vai lembrar delas. Por um lado isso é bom, por outro tenho pena, porque posso garantir com relativo grau de certeza (e espero não me enganar) que vai demorar algum tempo até que conheça pessoas tão marcantes.
Mas já estamos em casa e isso é que importa. É como dizem: comer, arrotar, mudar fralda, pôr a dormir. Assim, o dia inteiro, em loop. E também é como dizem a parte de babarmos porque esta amostra de gente delira com o nosso colo, a nossa (e só a nossa) mão na cabeça, sorri-nos sem querer e, caramba, é um pouco de nós. Até me ponho em sentido quando ela olha para mim! E perdoo-lhe o facto de não me deixar dormir mais de duas horas e de me trocar as voltas. Acorda de duas em duas horas para comer e agora que era preciso abrir a pestana está a dormir como uma santa há três. Vá-se lá entender esta gente pequenina...