As presidenciais, o 'Público e a fé no futuro
Em dias como hoje o meu optimismo não é um optimismo. É como a objectividade jornalística ou a verdade histórica. É uma ferramenta que uso para não me chatear a sério. Faço de conta que acredito quando o que acho é que este país realmente não tem salvação e temo pelo futuro das miúdas que pus no mundo (também costumo soltar a drama queen que há em mim).
O 'Público' de ontem fechou a cobertura das eleições presidenciais colocando as mesmas duas perguntas a 50 pessoas (personalidades, chamam-lhes):
1. O que ficou desta campanha?
2. A campanha fê-lo mudar o sentido do voto?
A maioria respondeu coisas como "não ficou", "foi fraca", "muito soundbyte" e outras considerações deste género que me puseram a pensar muito a sério no que escreveu o comunista Vítor Dias no seu blogue Tempo das Cerejas - o meu favorito do momento, o meu guia durante todas as eleições (estou até para escrever um mail ao senhor). A primeira reacção, antes de ler o texto, foi pensar "lá está este, apoiante de Francisco Lopes, que vai cair nas votações, a dizer mal de tudo, a exagerar nas observações e a ofender as pessoas dizendo que são como os taxistas, parece que só ele é que sabe". Depois de ler o texto passei a concordar inteiramente.
A sério, é fascinante. Estas 50 pessoas -- professores universitários, músicos, fazedores de opinião de vária índole -- estão em melhor posição do que a maioria de portugueses, em melhor posição até do que os jornalistas para opinar e interpretar, que supostamente estão mais informadas (como bem diz Vítor Dias) queixam-se de falta de ideias, dos soundbytes, percebemos que tudo isto é muito mais grave do que se podia pensar. Não é porque ache eles têm razão. É porque são eles que realmente mandam. São estas pessoas que estão naquelas cargos superiores, porém sem visibilidade e/ou escrutínio, que estão a dispor as pedras do tabuleiro, ainda que não precisem exactamente de um cartão de um partido. E não sabem nada. E é por isso que dizem que não lhes ficou nada. O que também não os impediu de falar... E falar bem em muitos casos. O que também é sintomático. Neste país existem quase 50 maneiras de falar sobre 'nada'.
No meio disto, o que não tenho claro é o papel do 'Público':
- deixaram passar esta pobreza intelectual para a pôr em evidência?
- ligaram apenas às pessoas com quem lhes é fácil facil, perpetuando assim o status quo e legitimando-o?
Estou na dúvida...