Não gosto do que dizes, mas prefiro que o possas dizer
Por acaso, ou se calhar não tão por acaso como isso, li nos comentários ao post sobre o fecho do "Sol" e do "i" que iam fechar enquanto o "Correio da Manhã" continua. E que é mau e isto e aquilo e o outro (tudo em mau). E também acabo de ler uma pessoa (no facebook) perguntar "Tens lido o "Sol"? Será jornalismo?". Ou, ler, com li, que é uma pena pelos títulos, mas não pelo arquiteto Saraiva, diretor e fundador do "Sol". A quem chamavam, sem cerimónias, arquitonto.
Ora bem, eu não queria ter de vir para aqui defender uma pessoa que escreveu lamentáveis crónicas sobre homossexualidade como se estivessemos no século XIX, que atacou uma mulher, e a sua capacidade de formar uma família, baseado no número de namorados que a imprensa lhe atribui, mas essa é a beleza da vida livre: cada um poder dizer o que quero e outros o seu contrário. Liberdade em estado puro. Além disso, e apesar louco, era bom que também se lhe reconhecesse algum génio. Saraiva tentou, e perdeu (mas ao menos tentou), lançar um semanário e fazer frente ao "Expresso". As pessoas que arriscam também merecem respeito.
Mas, bom, não fulanizemos, porque o fecho dos jornais, é mais do que isso. Apesar de simples. É dizer apenas isto: um país é tanto melhor quanto mais e melhores forem os seus jornais, as vozes que ouve e publica, as sensibilidades que mostra. Diversidade e variedade.
Bem sei que a ninguém importou a morte de um jornal como o 24horas Há todo um mundo que acha que não devemos ter tablóides. Fizeram mal. É muito fácil lamentar a morte de publicações que gostamos, mas é ainda mais importante lamentar a morte das que não gostamos. É aquela velha coisa de "não gosto do que dizes, mas lutarei até à morte para que o possas dizer". É isso. É isso que acho. Que preferia não ver o interrogatório do Miguel Macedo na CMtv porque é um lixo e um atentado à privacidade que a todos nos assiste, mas para evitar passar as linhas vermelhas do respeito pelo outro podemos ter a Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Se ela quiser trabalhar e pronunciar-se. Fazer o seu trabalho, no fundo. O resto é apenas uma tristeza.