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Quem sai aos seus

Um blogue para a Madalena, para a Teresa e para a Francisca.

A marcha do orgulho feminista

Um dia, lendo velhas primeiras páginas do Diário de Notícias, do início do século XX, descobri um pequeno texto bastante crítico contra "os feministas". Que fosse de bota-abaixo não me surpreendeu. É o habitual quando se fala em direitos das mulheres. Foi aquele masculino - os feministas. Tem graça. Estamos a descobrir, e bem, homens que percebem que os direitos não podem estar apenas no papel, mas eles, pelos vistos, sempre existiram. Ou, pelo menos, estiveram no princípio de tudo. E eram alguns daqueles que estiveram nessa enorme, gigantesca, fabulosa, marcha do 8-M, em Madrid e outras cidades espanholas. Essa marcha que me deixou roidinha de inveja.

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 El Pais

Claro que nunca me passou pela cabeça fazer uma coisa assim. Tenho pena. Eu nem sabia que era possivel. E, pelos vistos, em Portugal, também ninguém se lembrou, deu crédito ou lhe viu interesse.

Uma dirigente do Movimento Democrático das Mulheres (MDM) manifestar-se contra a greve das mulheres espanholas. Regina Marques diz que em Portugal "não temos razões para isso". "Só metade das mulheres é que são trabalhadoras e têm de fazer greve por razões laborais e não por outras questões". Mas, para o meu apetite, o pimento padrón picante é este: "A greve é algo que está instituído para quem trabalha. Uma mulher que não trabalha, não faz greve. Quem é o patrão que se vai sentir incomodado com essa greve? Portanto a greve é uma questão laboral (...). Uma reformada faz greve contra quem?".

A bem da verdade, nenhuma outra força política se lembrou de se unir a nuestras hermanas (exppressão gasta, mas super bem aplicada neste caso) e compreendo que o MDM luta pelos direitos das mulheres trabalhadoras, mas não vejo como isso poderia colidir com uma marcha como a que se viu em Madrid e em outros mais de 100 mumicípios (brutal!, não sei se já disse).

As mulheres quiseram lembrar que fazem a diferença nos seus locais de trabalho. Que são uma força de trabalho que importa. Bem sei que quando falamos de salários era melhor tratar todos, homens e mulheres, por igual, se a prática não mostrasse que, apesar das leis, as mulheres continuam a receber menos do que os homens. Em Portugal, menos 17% para ser exata. Isto para além da maioria continuar a ser o pivô da vida familiar, e não vou fazer um rol das muitas minudências que as mulheres sabem e que os homens não precisam de acumular no disco rígido. 

O que me parece, das palavras da dirigente do MDM, é isto já nem é uma questão feminista. Na sociedade que temos só quem trabalha por um salário é que pode exigir o que quer que seja. Todos os nossos direitos estão indexados ao trabalho. Ser pessoa não basta.

Posto de outra forma, talvez mais simples, se eu decidir ficar em casa com as crianças ou cuidar dos mais velhos, como o meu trabalho não é pago e não desconto para a segurança social, tudo o que faço é considerado nada. É nada? Não tenho direito a reclamar uma vida melhor, não me posso queixar, não posso dizer que ganho uma pensão de miséria quando esse dia chegar? Nunca passou pela cabeça de ninguém que se pudesse descontar ainda que não se trabalhe por um salário em dinheiro mas por uma família? Que uma pessoa para ser livre de tomar as decisões que melhor entende só o possa fazer tendo um salário é coisa muito perversa.

Mas, para voltar ao feminismo, o que a marcha do 8-M vem mostrar é que, talvez, talvez mesmo, estejamos a chegar a novos lugares nisto de ser uma (ou um) feminista. O mundo está a mudar e eu quero fazer parte dessa mudança. Quero ser capaz de entender as novas feministas, miúdas que um dia vão passar a "tocha" às minhas filhas (mesmo que elas já tenham tudo para não se importar nada com isto).

Fico contente, mesmo contente, por tantas e tantas mulheres que não querem flores no Dia da Mulher, nem cursos de maquilhagem nem manicures nem massagens relaxantes. Ou por existirem outras maneiras de nos expressarmos. Fico contente pelas palavras de Natalie Portman. "Não estamos a viver um mundo mais puritano. É puritano aquele em que vivemos, onde um homem pode dizer o que quer, mas uma mulher não".

O que uma mulher precisa é de ter opções, escolher livremente, ocupar lugares de chefia, falhar como os homens, marchas onde se exibe o orgulho de ser feminista (já não é palavra maldita) e desses 17%  que ainda recebemos a menos do que os homens. Quando os tivermos na mão logo decidiremos se os gastamos nas unhas. E se o fizermos, so what...

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 American Beauty

 

 

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