Estou dentro de um táxi a caminho de um serviço. Um inferno. A cidade está parada. O condutor não fala mas não é antipático, o rádio toca, cheira mal aqui dentro mas está razoavelmente limpo. Só andei de uber em Madrid mas considero adotar o serviço. Todos me dizem que é mais barato. Como pessoa que anda de táxis gostava que prestassem melhor serviço. Compreendo que se chateiem com a uber e acho a plataforma deve ser mais transparente. Mas é inútil lutar com moinhos de vento. Só temos de nos adaptar.
Todos temos de morrer. Ok. Parece que este ano estão a morrer mais pessoas do que nunca. É verdade e, até há quem tenha uma explicação, mas, bom, parece que já nem morrer sabemos. Prince foi encontrado sem vida num elevador. Nicolau Breyner, em casa, sozinho. Uma antiga colega de trabalho morre e não temos logo ali o telefone de alguém próximo a quem perguntar: o que se passou? Podemos ajudar?
Morrer tornou-se apenas mais uma coisa que nos acontece e a que já não precisamos de dar grande importância. A morte de Prince, sem ir mais longe, serviu para o Bruce Springsteen fazer um vídeo viral e uma banda sair das profundezas do olvido, de onde não deveria ter saído, para ganhar uns trocos à conta de um morto genial.
"Quando morremos somos um link para uma notícia no site, que alguém partilhará, ou não, e no dia seguinte o mundo continua...", diz a minha amiga Patrícia. Às vezes, nunca parou mesmo de girar.
Truman Capote e Harper Lee fotografados em 1966 por Steve Schapiro (Corbis)
1 - "Mataram a Cotovia", Harper Lee.*
2 - "A Sangue Frio", Truman Capote.
É preciso consegui-lo antes de chegar aos 40 anos. E são estes porque Nelle e Truman amigos de infância e quero descobrir ligações entre eles. Mesmo que sejam imaginárias.
*É o que ando a ler com esforço e abnegação (e a voz de Irene Cruz fazendo de Tom Sawyer), procurando não me distrair com a televisão, o netflix, o facebook e uma mosca que voa.
Uma pessoa só pode não gostar de Paris quando está longe. E nem vamos falar na sorte que é ser enviada em trabalho a um sítio assim e pela razão que foi...
Vi a Torre Eiffel pela primeira vez em 1990 e continuo a achar que é das coisas mais bonitas do mundo. Só nos lembramos de como é grande quando estamos ao seu lado.
Ontem de manhã, depois do trabalho feito, dei uma corrida até lá. Estou a fazer disto um mantra: levar sempre os ténis e tentar correr. Quando for velhinha, vou poder dizer com propriedade que já corri, pelo menos, em Londres, Madrid, Paris e Viseu... :)
Esta é a verdadeira razão desta viagem: a exposição de cortar a respiração de Amadeo de Souza-Cardoso no Grand Palais. Entre os Campos Elisios e o Sena. Depois do Picasso. Podem ler tudo o que escrevi sobre o assunto no DN.
Os ingleses e americanos usam a palavra show para se referirem a exposições, o que neste caso é perfeitamente adequado. É esmagador o talento deste homem, mais ainda imaginando boa parte de tudo isto foi conseguido sozinho. Um espetáculo, mesmo.
Estes são os pochoirs, moldes que usa para as suas obras finais, já com referências pop.
Estas:
Da época "mais fulgurante", segundo a comissária da exposição, Helena de Freitas.
E o mega-orgulho de ser portuguesa e ver o nome do nosso maior pintor deste tamanhão na entrada do Grand Palais.
O maravilhoso Grand Palais.
No domingo chegámos demasiado tarde a tudo mas ainda passámos pela Place de La Republique, onde um grupo de jovens se reúne todas as noites. Querem mudar muita coisa na sociedade, começando nos apoios aos jovens.
Tentámos ver o Paul Klee no Pompidou mas ficámos por esta árvore. A árvore que dá livros.
Andámos muito! Com um tempo ótimo, primavera a sério, e cruzámo-nos com imensa pessoas que eram a cabal definição de estilo (o que mais adoro numa cidade).
Tinha a certeza que a Rue Cambon era um sítio importante, e por isso tirei a foto, mas foi só em Lisboa que confirmei a minha primeira suposição: era aqui, no número 31, o atelier da Mademoiselle Chanel.
Ontem, finalmente, conseguimos dar um salto à exposição da Helena Almeida, no Jeu de Paume. Outra beleza.
E, como em tudo na vida, a companhia fez a diferença.