Os Deolinda fizeram quatro concertos nos coliseus. Apresentaram uma música nova - 'Parva que Sou' - que está a entupir os blogues e o Facebook de comentários e links. Fala disto de ser uma geração sem trabalho fixo. Sem rede. Que vive pior. Estou de acordo com tudo. É verdade, vivemos pior. Os pais continuam a ter de nos oferecer bons presentes de aniversário. Ajudam com as compras no supermercado. Oferecem roupa. Nós viajamos mais e somos mais cultos e nada. Não temos melhores ordenados nem mais tempo nem mais satisfação. Nem todos, claro. Mas uma parte. Alguns que até nem trabalham a recibos verdes. Achava que isto era tudo conversa de coitadinhos quando me pus a pensar em mim e no meu grupo de amigos mais próximo. Onde está a nossa independência? A nossa independência real? Perversamente, os Deolinda passaram a viver da música, coisa que não faziam há dois anos quando a Ana Bacalhau era arquivista. Acho que o António Guerreiro (Ao Pé da Letra, suplemento 'Atual', 'Expresso') é que tem razão: O progresso não existe. Faz parte dessas metanarrativas que nos inventaram. E agora vamos ter aprender a viver com essa descoberta.
Não temos tempo para ir ao cinema, ao teatro, jantar sozinhos, fazer uma noitada, ir a "sítios da moda" como o Viking porque temos duas filhas. Quando vamos é tão excepcional que exijo que tudo o que me faz sair de casa seja perfeito ou, pelo menos, óptimo. O trabalho também. Caso contrário, porquê (para quê) fazê-lo?
Está na moda falar de liderança. O que é um bom líder? É o Mourinho? É verdade que ele tem o que eu acho que um líder tem de ter: sabe o que quer e defende a sua equipa em qualquer situação, mas, se ele não apresentasse resultados, estávamos aqui a dizer que ele era o maior? Um dia vai perder e nesse dia vai deixar de ser líder? Tenho andado a fazer essa pergunta. Concluí que não. Não será líder quando começar a perder. Concluo, aliás, que saber o que quer e defender a sua equipa é o que o faz ganhar.
O exercício da liderança pode ser feito de várias maneiras. Há o género bruto, há o género amigo, o género paternalista. Não tenho nada contra nenhum deles por si só. Logo que as coisas funcionem. E para funcionarem acho que só existe uma maneira: saber o que se quer. Válido para tudo, aliás.
A Madalena adora os 'Super Leitores', uns desenhos animados que passam no Panda.
Ora, eu desconhecia por completo a existência de ditos bonecos até ela os ter assinalado numa revista do dito Panda, o que vem mesmo a propósito para sublinhar que, por mais que queira, não posso controlar tudo o que ela vê e aprende. E, posto isto, o que é que posso dizer? Olhem, antes 'Super Leitores' do que 'Super Drogados'.
Em dias como hoje o meu optimismo não é um optimismo. É como a objectividade jornalística ou a verdade histórica. É uma ferramenta que uso para não me chatear a sério. Faço de conta que acredito quando o que acho é que este país realmente não tem salvação e temo pelo futuro das miúdas que pus no mundo (também costumo soltar a drama queen que há em mim).
O 'Público' de ontem fechou a cobertura das eleições presidenciais colocando as mesmas duas perguntas a 50 pessoas (personalidades, chamam-lhes):
1. O que ficou desta campanha?
2. A campanha fê-lo mudar o sentido do voto?
A maioria respondeu coisas como "não ficou", "foi fraca", "muito soundbyte" e outras considerações deste género que me puseram a pensar muito a sério no que escreveu o comunista Vítor Dias no seu blogue Tempo das Cerejas - o meu favorito do momento, o meu guia durante todas as eleições (estou até para escrever um mail ao senhor). A primeira reacção, antes de ler o texto, foi pensar "lá está este, apoiante de Francisco Lopes, que vai cair nas votações, a dizer mal de tudo, a exagerar nas observações e a ofender as pessoas dizendo que são como os taxistas, parece que só ele é que sabe". Depois de ler o texto passei a concordar inteiramente.
A sério, é fascinante. Estas 50 pessoas -- professores universitários, músicos, fazedores de opinião de vária índole -- estão em melhor posição do que a maioria de portugueses, em melhor posição até do que os jornalistas para opinar e interpretar, que supostamente estão mais informadas (como bem diz Vítor Dias) queixam-se de falta de ideias, dos soundbytes, percebemos que tudo isto é muito mais grave do que se podia pensar. Não é porque ache eles têm razão. É porque são eles que realmente mandam. São estas pessoas que estão naquelas cargos superiores, porém sem visibilidade e/ou escrutínio, que estão a dispor as pedras do tabuleiro, ainda que não precisem exactamente de um cartão de um partido. E não sabem nada. E é por isso que dizem que não lhes ficou nada. O que também não os impediu de falar... E falar bem em muitos casos. O que também é sintomático. Neste país existem quase 50 maneiras de falar sobre 'nada'.
No meio disto, o que não tenho claro é o papel do 'Público':
- deixaram passar esta pobreza intelectual para a pôr em evidência?
- ligaram apenas às pessoas com quem lhes é fácil facil, perpetuando assim o status quo e legitimando-o?
Tropecei na foto de um colega de trabalho com a filha, igual a ele, no Facebook. Legenda: "A minha mãe é uma óptima fotocopiadora". Tive uma epifania. Não sou uma mãe, sou uma Xerox. Estou tão solidária com esta rapariga...